por Eduardo Masulo*
Apesar do roubo de cargas apresentar em 2023 um prejuízo de cerca de R$283 milhões no Rio de Janeiro, segundo a FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), engana-se quem pensa que esse crime reside apenas no estado fluminense.
Dados do Centro de Inteligência da Overhaul, empresa de software de gerenciamento de riscos e visibilidade da cadeia de suprimentos, apontam que, em 2023, foram registrados mais de 17 mil casos de roubos de cargas no país, sendo 88% concentrados na região que abrange os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás.
Esse é um crime que possui alto impacto na economia, gerando aumento dos preços na extremidade da cadeia logística, custos operacionais com escoltas armadas, além dos fretes e da escassez de oferta de motoristas dispostos a enfrentar as estradas desses principais centros.
As causas para tais ocorrências são variadas, abrangendo questões políticas, econômicas e sociais, mas alguns fatores como os comportamentos de riscos adotados por empresas que não compreendem os seus deveres, com ausências de estruturas, processos e tecnologias, contribuem e impulsionam essas perdas. Já pelo lado público, as baixas taxas de elucidação de crimes sugerem o recado de que o crime compensa.
Pensando nisso, entender como e onde o crime organizado atua e suas faces faz a diferença e garante a continuidade dos negócios.
E a tratativa para a problemática dos roubos de cargas vai além de olhar somente para o que acontece fora das empresas. Quando entendemos isso, damos o primeiro passo na direção para começar a resolver as perdas do negócio.
Hoje, por exemplo, toneladas de produtos são desviados de Centros de Distribuição em uma soma de esforços de criminosos com a participação efetiva de colaboradores. Além disso, posições estratégicas são alvos de assédios e não olhar para isso é um pecado capital.
Por isso, da porta para dentro, é recomendado adotar treinamentos específicos, realizar análises de avaliação de flexibilidade ética e estar atento a comportamentos que devem fazer parte da gestão do profissional de Segurança.
Por outro lado, os sistemas tecnológicos são importantes para minimizar perdas, mas não basta instalar dezenas de câmeras sem um estudo técnico. Tecnologias, processos e pessoas capacitadas devem se complementar e não se substituir, afinal de contas, as pessoas contratam tecnologias e realizam processos e são elas mesmas que também burlam os regulamentos.
Além disso, as relações também devem fazer parte do cotidiano e, por conta disso, não menos importante, é saber se relacionar com o público externo da sua organização. Muitas empresas possuem áreas de Relacionamento Institucional, mas será que atendem por completo as necessidades das empresas?
Ler os cenários relacionados à segurança e saber distinguir os riscos reais influenciam em aumento de market share. As extorsões, por exemplo, são uma realidade, e nela, não há espaço para ficar em cima do muro. Assim, possuir processos pragmáticos com adesão da alta gestão e a prática do Compliance ajudarão a romper e vencer esses obstáculos. É necessário entender que resultado a qualquer custo é uma porta aberta para o descumprimento das regras e que, muitas vezes, serve para justificar comportamentos de risco e permitem o acesso de pessoas a serviço do crime dentro das operações logísticas.
As soluções, nesses casos, não são receitas de bolos e, o que é sucesso na operação do vizinho, não necessariamente dará certo na sua operação. Assim, é preciso considerar fatores como pessoas e aliciamentos em diversos níveis, processos frágeis, ausência de acompanhamento das ações e resultados, ações customizadas conforme necessidades de cada desafio e mudança de mindset. Os interesses pessoais não podem ser maiores que os interesses das organizações pautados na ética e compliance.
*Eduardo Masulo é consultor master da ICTS Security