Especialistas avaliam o impacto de falhas operacionais globais, destacando a importância atualizações e ajustes que compreendam as dimensões das conexões atuais
O setor de seguros enfrenta novos desafios devido ao aumento de falhas operacionais em sistemas integrados globalmente. Especialistas da área apontam a possibilidade de surgimento de sinistros que podem não ser cobertos pelas apólices de seguro cibernético tradicionais, uma vez que os incidentes não resultam de ações maliciosas, como ataques ou ameaças, mas sim de erros de sistemas. Estes, embora simples e até esperados, causam um impacto cada vez maior em diversos setores da economia.
Um exemplo recente é a “tela azul” que milhões de computadores ao redor do mundo apresentaram em 19 de julho. O problema não foi um ataque cibernético, mas sim uma falha operacional durante uma atualização de software da CrowdStrike, fornecedora do software Falcon para a Microsoft, utilizado amplamente em sistemas de empresas, hospitais, bancos e aeroportos.
“O que se espera, na verdade, é que ocorra um efeito sistêmico em várias modalidades de seguros e, possivelmente, não tanto nas coberturas de risco cibernético propriamente ditas”, explica Débora Schalch, sócia do Schalch Sociedade de Advogados. “É provável que haja muito mais repercussão nas apólices de responsabilidade civil, por danos causados a terceiros pela interrupção das atividades das empresas afetadas, a exemplo de empresas do setor financeiro, hospitalar e de transporte aéreo.
A especialista também aponta um possível impacto para o setor de saúde, devido às interrupções de procedimentos, e para o financeiro, que envolve a questão de proteção contra lucros cessantes e perdas decorrentes da paralisação dos mercados. “Evidentemente, cada modalidade de apólice tem suas especificidades. Nem todas as apólices têm cobertura para interrupção de negócios, mas a expectativa é de que o maior volume de avisos pode surgir dessa área”, afirma.
Perspectivas
Para além do impacto significativo nas operações diárias de diversas organizações, o incidente também levantou questões importantes para o setor de seguros. Embora os avisos de sinistros ainda estejam sendo avaliados, as seguradoras deverão considerar as implicações do evento para ajustar suas políticas e coberturas futuras.
Débora Schalch enxerga o caso como um novo desafio para as seguradoras, destacando a necessidade do setor se preparar para falhas operacionais que podem ter repercussões globais. “Até o momento, não há registros confirmados de reclamações relacionadas no Brasil, menos atingido em razão da diferença de fuso horário, mas a estimativa inicial de prejuízos globais gira em torno de dezenas de bilhões de dólares. É necessário apurar os detalhes de cada caso e reclamação à medida em que os sinistros são reportados às seguradoras”, pondera a especialista.