Mudanças climáticas impõem custos bilionários e demandam ações urgentes

Com impactos de desastres naturais em alta, setor de seguros no Brasil e no mundo se mobiliza para aumentar proteção e fomentar a cultura da sustentabilidade

As chuvas causaram um custo de até US$ 300 bilhões às seguradoras no mundo. O dado foi informado por José Goldemberg, PhD em Física e ex-ministro de Educação e de Saúde, durante a palestra magna no evento “Está Chegando o Verão: Mudanças Climáticas, Urbanização e Vulnerabilidade – Impacto no Curto Prazo”. O encontro foi promovido pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Sindicato das Seguradoras de São Paulo (SindsegSP) e Academia Paulista de Letras na última terça-feira, dia 5, na capital paulistana.

Ana Cristina Barros

Nas últimas quatro décadas, segundo Goldemberg, o número de grandes desastres está aumentando, e a precipitação de água é o fenômeno mais representativo. “Com o aumento da temperatura, ocorre a intensificação das turbulências na atmosfera, o que gera instabilidade. Esse desequilíbrio acaba se transformando em chuvas inesperadas, pois há mais água na atmosfera”, sinalizou. Para o professor, a solução do problema está baseada na redução de emissões ou na identificação da causa que está levando a esse aquecimento.

Os efeitos dos eventos climáticos não são sentidos apenas no Brasil, como se viu no caso do Rio Grande do Sul, onde as seguradoras já desembolsaram R$ 6 bilhões em indenizações. Na última semana, a Espanha sofreu com chuvas e inundações extremas que já deixaram mais de 200 pessoas, mortas e dezenas de desaparecidos. A tragédia já é considerada um dos maiores desastres naturais da Espanha e a enchente mais fatal da Europa desde 1970, quando 209 pessoas morreram na Romênia. Supera também o número de mortos registrados no sul do Brasil, entre abril e maio deste ano, que totalizou 183, segundo dados da Defesa Civil.

Os Estados Unidos, apenas neste ano, já tiveram que lidar com o prejuízo causado por dois furacões, o Helene e o Milton. Antonio Penteado Mendonça, presidente da Academia Paulista de Letras e especialista em seguros, citou na abertura do evento que o país norte-americano “pode registrar até US$ 100 bilhões em prejuízo”. “Nunca planejamos para agir depois dos acontecimentos. Nós estamos atrasados em todos os sentidos”, destacou.

Ainda na abertura, Rivaldo Leite, presidente do SindsegSP, destacou que o Brasil, nos últimos anos, está vivendo experiências cada vez mais difíceis, como o ocorrido em Petrópolis, em 2022; no litoral de São Paulo, em 2023; e no Rio Grande do Sul, neste ano. “Cada mudança climática nos traz oportunidades de melhoria no processo de criação de produtos de seguros, além de produtos mais abrangentes para que a população tenha consciência da importância de se ter uma apólice de seguro”, contou.

Carlos Queiroz, diretor da Superintendência de Seguros Privados (Susep), destacou que a sociedade precisa estar preparada para lidar com as mudanças climáticas e seus impactos. “Os eventos que aconteceram mostram que estamos em estado de emergência e precisamos ficar em alerta, assim como compreender a importância do seguro para lidar com essas perdas.”

Para auxiliar nesse preparo, Queiroz adiantou que a Susep está desenvolvendo um estudo focado na tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, buscando incentivar uma maior participação do mercado de seguros na sociedade. Segundo ele, o objetivo é ampliar o acesso e a conscientização para que as pessoas busquem mais produtos de seguro, de modo que o setor esteja mais apto a responder em caso de uma tragédia similar à que afetou o estado gaúcho.

Complementando a visão de Queiroz, Ana Cristina Barros, diretora de Sustentabilidade da CNseg, acredita que o setor de seguros pode ir além da resposta reativa aos desastres, incentivando ações antecipadas para enfrentar fenômenos climáticos e fortalecer uma cultura de sustentabilidade. “Atualmente, 30% das perdas no mundo são seguradas; no Brasil, apenas 10% dos eventos são cobertos por seguros. Então precisamos que as estratégias olhem para o seguro e que coloquem um guizo no nosso pescoço,” afirmou, reforçando a necessidade de sinalizar esses riscos de forma mais eficaz e integrada ao planejamento preventivo do setor.

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