Em comum, os executivos defendem a importância do corretor e a necessidade de eles se aprimorarem aos novos tempos
Karin Fuchs
No final de julho, a Susep divulgou a regulamentação das diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) para implementação do Open Insurance. Na repercussão entre os executivos do setor, a iniciativa é positiva, traz desafios para a sua implementação e a importância do corretor na distribuição de seguros continua.
“Por princípio somos favoráveis a iniciativas de livre mercado e incentivo a concorrência que ajudem a desenvolver o mercado de seguros. O Open Insurance pode contribuir, antes de tudo, acelerando o desenvolvimento de novas soluções pelo mercado securitário, de maneira cada vez mais aderente às necessidades dos clientes, abrindo um novo caminho de crescimento para o mercado”, afirma Rafael Ramalho, diretor-executivo de Personal Lines da Zurich no Brasil.
Para Henry Arima, diretor de Digital, Marketing & Distribuição da Berkley, esse movimento de abertura e compartilhamento de dados é uma tendência global que veio para ficar. “O aumento na troca de dados por APIs catalisará a inovação e intensificará a “coopetição” entre os players no setor de seguros. Por consequência, essa inovação mais guiada por dados permitirá o desenho de novos produtos e serviços para atender as demandas específicas de cada consumidor”, explica
Na Argo Seguros, o head de TI, Adriano Cruz, comenta que este ambiente permitirá que as pessoas físicas, além de pequenas e médias empresas, tenham mais acesso a modalidades de seguros e, consequentemente, transformem a concorrência do mercado.
“Vamos ver pessoas que outrora não possuíam nenhum acesso a este tipo de produto, podendo ter coberturas diferenciadas, com mais vantagens, menor preço e, principalmente, agilidade na contratação. Certamente, o mercado também aposta em uma capilaridade cada vez maior dos produtos, o que fará com que a própria condição melhore, uma vez que o fundamento básico do seguro é o mutualismo, assim, quanto mais acessível, mais barato para todos”.
Superintendente de Tecnologia e Processos da Mapfre, Willians Monteiro, diz que o conceito do Open Finance e a interoperabilidade (integração entre as plataformas do Open Insurance e Open Banking) ampliam as possibilidades de as seguradoras reforçarem ainda mais a característica ímpar que o seguro tem de oferecer proteção e amparo financeiro a pessoas em momentos de fragilidade, ou em um evento que possa colocá-las em dificuldade financeira. E que o ambiente mudará a dinâmica da competição. “As companhias de seguros estão habituadas a operarem em um ambiente de forte competição e a questão agora não é se haverá mais competição e sim como essa competição irá se estabelecer em um cenário completamente novo para todos, em um ecossistema que se torna cada vez mais dinâmico, acompanhando as demais transformações que estão ocorrendo em outras indústrias. A competição agora não tem mais fronteiras, nem entre as indústrias, o mercado está aberto e o business de plataforma se torna o mais novo balcão para comercialização de serviços e soluções de seguros. A resposta é afirmativa para a intensificação da concorrência”.
Impactos na distribuição
Em comum, os executivos ressaltam a importância do corretor e dizem que há espaço para todos. “Sempre haverá espaço para todos num ambiente competitivo, em que a busca por inovação no modelo de negócio é incessante”, comenta Arima.
Adriano Cruz prevê que pode haver mudanças no modelo atual no futuro. “Vejo a figura dos corretores como peça importante na cadeia da prestação do serviço, mas eles também precisarão se adequar ao novo modelo para estarem cada vez mais presentes aos seus clientes. Esperar um movimento somente das seguradoras pode fragilizá-los, o que não seria positivo para eles, para os segurados e até para as próprias seguradoras.”
Na visão de Monteiro, o Open Insurance será uma nova forma de fazer negócios, não excluindo nenhum dos agentes do mercado. “Muito pelo contrário: ele amplia as possibilidades de geração de negócios com maior dinamismo a todo ecossistema. O corretor sempre exerceu papel importantíssimo no processo de distribuição e democratização dos seguros e isso não mudará. A transformação do mercado traz mais possibilidades para que os corretores intensifiquem suas estratégias de captação, distribuição e relacionamento com os clientes em meio digital”.
Nas palavras de Ramalho, no Brasil, “o corretor de seguros tem papel estratégico para a Zurich, e este imperativo segue inalterado. O corretor presta um serviço consultivo aos clientes, serviço que certamente continuará sendo essencial no Open Insurance. A Zurich é uma seguradora genuinamente multilinha e multiproduto, e contamos com o corretor de seguros para identificar as melhores soluções para o cliente dentre o nosso amplo leque de opções”.
Mudanças
Ramalho avalia também que a implantação do Open Insurance traz desafios do ponto de vista de prazos para a construção de soluções tecnológicas, operacionais e adaptação de produtos e serviços, e que o respeito à privacidade e à segurança dos dados dos clientes deve ser premissa fundamental para sua implantação.
“A Zurich está atenta aos prazos determinados pelo CNSP para o Open Insurance, e temos confiança de que este será construído de maneira segura e robusta para operação em larga escala, gerando valor real para clientes e demais atores do mercado”.
Visão similar compartilha Adriano Cruz. “No novo ecossistema, as empresas do setor deverão fornecer um sistema capaz de compartilhar as informações solicitadas pelos clientes de forma segura, cumprindo assim com as leis e novos regulamentos. O consumidor poderá encontrar uma solução que seja mais adequada para sua situação, fazendo com que as seguradoras tenham que desenvolver novos produtos”. Além disso, ele diz que há a expectativa de que, como as seguradoras passaram a ter mais informações sobre o perfil do consumidor de seguro, poderem prover soluções mais adequadas.
Na opinião de Monteiro, o Open Insurance é tema prioritário nas agendas de inovação e digitalização nas seguradoras. “No médio prazo, a automação e digitalização dos processos operacionais incorrerão na redução dos custos de manufatura do seguro permitindo às seguradoras melhorarem suas ofertas, criando produtos ainda mais aderentes às diversas necessidades e realidades dos consumidores brasileiros. O Brasil é um país de múltiplas realidades e o seguro como conceito de proteção deve ser inclusivo e acessível a todos”.
Já Arima destaca a análise de risco e a importância fundamental da proteção de dados. “Com mais acesso a dados, as seguradoras têm como melhorar a análise do risco e aprimorar suas estratégias de experiência ao usuário (“UX”). Outros ganhos potenciais virão de aumento de eficiência e interação com novas plataformas e ecossistemas. Será importante desenvolver um processo transparente para a coleta, gestão de compartilhamento e proteção de dados pessoais do consumidor, sempre em conformidade com a LGPD”, conclui.
Conteúdo da edição de agosto (234) da Revista Cobertura