Da timidez da menina de Sertaneja à força da mulher que acredita na realização do impossível

Trajetória de fundadora da corretora Mais Saúde é exemplo de que é possível chegar onde nem mesmo você pode imaginar. Basta acreditar e arregaçar a mangas

Por Carol Rodrigues

Maria Aparecida Dias

Maria Aparecida Dias, mais conhecida como Cida, e o marido Carlos moravam em uma cidadezinha chamada Sertaneja, município do estado do Paraná. Juntos, trabalhavam na roça, onde plantavam e colhiam feijão, milho, soja, trigo e algodão para os fazendeiros locais.

“A minha maior experiência, desde criancinha até moça, era trabalhar na roça”, relembra Cida.

Era 1994, quando ela veio para São Paulo. Neste mesmo ano, Cida começou um novo ciclo em sua vida, com uma profissão que a acompanharia e lhe traria muito sucesso.

Estimulada por uma vizinha chamada Zuleide, que queria ganhar uma indicação, Cida foi ao Hospital Cruzeiro do Sul. A própria vizinha achava que ela não ficaria nas vendas. Inclusive, em um primeiro momento, o supervisor da Zuleide, chamado César, não aceitou Cida como indicação.

“O senhor Sebastião fez uma palestra muito top e um sorteio para os corretores que lá estavam e eu ganhei. Quando ele falou o número 23, fiquei bem envergonhada, mostrei para a Zuleide, que mostrou para o César. Na hora, ele gritou: ‘é a minha vendedora’. Comecei como vendedora naquele dia, em que ganhei uma venda fechada de um valor bem alto”.

Cida, o marido e os filhos

Ela contou com a sorte no começo, mas não houve facilidade e, sim, muita persistência. Na primeira conversa com o supervisor, ele a orientou que, para ficar em São Paulo, em qualquer profissão que fosse, ela tinha que estudar o mercado, vestir-se bem, conversar com as pessoas e criar um vocabulário, digamos, mais sofisticado.

“Ele me ensinou que eu deveria falar as palavras difíceis da época, que era: o plano de saúde cobre tomografia computadorizada, ressonância magnética, litotripsia, UTI, que era um diferencial da operadora. Comecei trabalhando de porta a porta. Saía com os panfletos oferecendo plano para pessoa por pessoa. Não deixava passar ninguém”, recorda.

“Você tem que mudar”

Foi assim que ela, que não sabia o que era plano de saúde, começou a aprender a falar os termos específicos do setor de saúde suplementar. “Já que eu não tinha conhecimento, comecei a aprender o que significava cada palavra para poder oferecer o plano de saúde”.

Familia Mais Saude

Ela conta que a maior dificuldade quando começou foi conhecer a cidade de São Paulo. Afinal, ela vinha de uma cidade de 4 mil habitantes. “Atravessar a rua, pegar ônibus, falar e me vestir, tudo era uma dificuldade. Quando comecei no departamento de vendas, com aquelas moças lindas, todas com roupa social, bolsa executiva, um bip do lado, pensei: ‘meu Deus, fiquei alucinada. Que mundo é esse?!’. Era algo que eu não conhecia e não tinha imaginado vivenciar”.

O choque de realidade foi grande. Mas o supervisor foi um dos grandes responsáveis a mostrar a nova possibilidade de vida de Cida. “Ele me mandou olhar pela janela, era segundo andar, e perguntou se eu estava vendo algum pé de milho, feijão e arroz lá fora. Eu disse que não. Ele respondeu: ‘se você quiser ficar em São Paulo, terá que em primeiro lugar olhar no olho das pessoas e erguer a cabeça. Se você ficar desse jeito, é melhor pegar o dinheiro da venda e voltar para Sertaneja. Para você estar em São Paulo, você tem de mudar’”.

Nasce a Mais Saúde

Aquele momento foi um divisor de águas na vida de Cida, que após um ano e meio de ter começado a vender planos de saúde, abriu a sua própria corretora, a Mais Saúde. Afinal, quando começou, ela se deparou com um mercado muito grande. 

Cida e o marido quando chegaram em São Paulo e iniciaram a venda de planos de saúde

“Eu vi que o Cruzeiro do Sul era pouco para mim e que eu tinha capacidade de ir muito além. O pessoal queria comprar Golden Cross, o plano Resgate da Amil, do Einstein. Eu não tinha noção do que era o Einstein e fui estudar e me aprofundar. Foi quando abri a corretora com o meu marido. Estudamos o mercado e fomos conhecer hospitais para entender como funciona e dar seguimento nas negociações de vendas”.

Não por acaso, os grandes diferenciais da sua corretora são: o tempo que tem de mercado e o conhecimento. “Fomos atrás das informações para poder ajudar o cliente e pelo nosso crescimento profissional”, argumenta.

“Meu desafio hoje é não ter produto”

Quando começou, a sua pasta possuía 25 produtos. Hoje, o maior desafio, segundo ela, é que não se tem produtos para ofertar ao cliente. “Não consigo atender o cliente idoso. Muitas vezes, ele quer um plano com hospitais como Einstein e eu não consigo atender. Se for uma criança, também não. Minha maior dificuldade hoje é atender todos os clientes que me procuram”.

Nesse contexto, ela destaca que a regulamentação e a criação da Agência Nacional de Saúde (ANS), de certa forma, impactaram negativamente o setor de saúde. “Na minha visão, antigamente a concorrência era muito maior. Lá no Cruzeiro do Sul, o plano que eu vendia dava um dia de UTI. Aí fui vender Golden Cross, que dava 30, era um diferencial. Fui vender Porto, que já dava cobertura para doenças infectocontagiosas, mas existia produtos em que o cliente escolhia as coberturas que ele queria. Hoje, a ANS obriga as operadoras a dar todas as coberturas, que cada vez são maiores e o valor cobrado não supre. Por isso, as operadoras vão desistindo, parando de vender pessoa física”, analisa.

Inclusive, para ela, esse é o grande ponto de mudança desde que começou a vender planos de saúde em 1994.

“Não vi a vinda da ANS como melhora para o mercado crescer e se fortificar. Hoje, não é um direito de escolha do cliente e as operadoras são obrigadas. A maioria da população está perdendo, por conta do aumento e da burocracia”, argumenta. 

Todos por todos

A sede da Mais Saúde está localizada em Osasco e atualmente possui filiais em Ibiúna, São Roque e Mauá, comandadas pelos filhos de Cida (Júnior, Daniel, Henrique e Larissa), que seguiram os passos da mãe.

“Hoje tenho uma rotina bem mais tranquila, mas muito puxada. Sou muito focada. Agora que temos as filiais, fico de olho em tudo. Apesar de os meus filhos terem me surpreendido, depois que deixamos a gestão das filiais para eles”.

Mesmo assim, a rotina de Cida é corrida porque ela gosta de estar ciente de tudo, de ver onde está o problema e contribuir na resolução.

“Se eu disser que a minha vida profissional e pessoal é dividida é mentira. Desde que comecei como corretora, sempre levei meus filhos comigo. É tudo muito misturado, mas acho que dou conta de tudo”, comenta entre risos.

“O meu maior sucesso é a minha família. Tenho orgulho de falar isso. Somos uma família unida e dividimos as tarefas. Todos por todos. Quando um precisa, todos estão para ajudar”, completa.

Depois que descobriu um problema de saúde genético, Cida diz cuidar muito da própria saúde. O rompimento de todos os ligamentos do joelho não a possibilita fazer muitas atividades físicas. Quando pode, ela opta pelas caminhadas.

Católica e devota de Nossa Senhora, na família de Cida todos são apaixonados por cavalo.

Ela se autodefine como como exigente com horários e regras e ressalta que cada pessoa que convive ou trabalha, a ensina algo. “Sou uma pessoa muito alegre e feliz. A maior conquista foi ter o respeito de pessoas que considero muito importante no mercado e que chegam para mim e falam: ‘lembro de você e seus filhos pequenininhos e hoje vejo eles aqui como líder’”.

“Tudo foi superação na minha vida”

“O maior aprendizado da minha trajetória é saber que não tenho limite. O seu limite quem coloca é você. Se eu olhasse para trás, diante do que sou, nem sonharia ser quem sou hoje, ter tudo o que tenho e ter conquistado o que conquistei – família e bens”.

Ela lembra que teve sorte sim, mas, de nada adiantaria se ela tivesse voltado a Sertaneja quando o César disse para que pegasse o cheque e fosse embora, se ela não fosse mudar. “Eu tinha vontade de voltar porque quando você vem do interior você quer voltar. Mas você não tem como porque já veio com dinheiro emprestado. Tem que trabalhar, arregaçar as mangas e ir para cima. Tudo foi superação na minha vida. Hoje, quero sempre melhorar e aprender mais”, conclui a corretora especialista em saúde.

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