A tempestade perfeita: os riscos interconectados da indústria FAB na América Latina

Por Paulo Vitor Rodrigues, diretor de Agronegócios, Bebidas e Alimentos para a América Latina na Aon

Espera-se que a população mundial atinja 9,7 bilhões até 2050. Esse aumento, juntamente com a ampliação da urbanização e uma classe média crescente está remodelando a indústria de alimentos, bebidas e agronegócios, onde as mudanças climáticas e o consumo saudável trazem desafios. Em outras palavras, podemos dizer que manter uma população mundial crescente alimentada sem prejudicar o planeta por meio do aumento das emissões e do desmatamento é uma tarefa significativa que o setor enfrenta.

A “Indústria FAB”, como é conhecida, se encontra à beira de uma série de riscos globais em evolução que podem comprometer seriamente a segurança das pessoas. Embora o setor sempre tenha operado em um cenário mutável e imprevisível, a escala e a velocidade de riscos como instabilidades geopolíticas, intensificação da crise climática e aumento da regulamentação – todos interconectados – criaram novos desafios globalmente. É por isso que estratégias inovadoras de gerenciamento de riscos ajudam tais empresas a construir a resiliência e a agilidade necessárias para prosperar.

Quando falamos sobre riscos, as empresas do setor na América Latina enfrentam, de forma geral, os mesmos desafios que em escala global, mas ainda sim existem ameaças mais relacionados à região, como a insegurança alimentar. Definida pela Organização Mundial da Saúde como uma limitação do acesso regular a alimentos seguros, nutritivos e suficientes para uma vida saudável, a insegurança alimentar afeta mais de 43 milhões de pessoas na América Latina, sendo que 37,5% da população regional sofre de forma moderada ou grave – globalmente, esse número chegou a 29,6%. Atualmente, cerca de 133 milhões de latino-americanos não podem pagar por uma dieta saudável, já que o custo médio diário é de US$ 4,08, superior à média global de US$ 3,66.

A volatilidade dos preços das commodities também tem sido um desafio. Isso porque existem fatores como interrupções na cadeia de suprimentos e aumento da inflação e custos, incluindo mão de obra e energia, que pressionam as margens de lucro. Entre 2020 e 2021, o custo de uma dieta saudável aumentou 5,3%, o que se relaciona à inflação dos alimentos e às interrupções na cadeia de suprimentos causadas pela pandemia. Estima-se que a COVID-19 levou mais de 10 milhões de pessoas à pobreza e à fome na região, aumentando o número total de pessoas em situação de insegurança alimentar grave.

Outro ponto de atenção é o risco de aumento significativo de ataques cibernéticos, especialmente ransomware, que pode interromper as operações e comprometer dados confidenciais. A aceleração digital no setor FAB está transformando oportunidades de negócios e processos operacionais. O rápido avanço da inteligência artificial e a adoção de tecnologias como blockchain e NFTs apoiam operações mais eficientes, eficazes e seguras para as empresas, mas, ao mesmo tempo, potencializam as ameaças que deixam o setor vulnerável a interrupções digitais e riscos cibernéticos. Abordar as lacunas de segurança cibernética, construir uma força de trabalho digital resiliente e fortalecer as defesas em toda a cadeia de valor passa a ser fundamental para as empresas desse setor.

De acordo com o Relatório de Resiliência Cibernética 2023 da Aon, as empresas da América Latina (incluindo empresas do setor FAB) têm problemas em três áreas críticas: gestão de terceiros, resiliência de negócios e segurança de aplicações. Esses três domínios estão em um nível “básico” de maturidade e a capacidade de resolver esses desafios depende da construção de um pipeline de talentos digitais com habilidades especializadas, uma tarefa que se tornou cada vez mais difícil em um mercado de trabalho acirrado.

A escassez de recursos hídricos e as mudanças climáticas também são fatores que impactam a produção agrícola e têm apresentado desafios para as indústrias. A falta de água pode limitar o crescimento das culturas e aumentar os custos operacionais. As mudanças climáticas foram o quinto risco mais mencionado pelas empresas FAB na Pesquisa Global de Gestão de Riscos da Aon.

Além disso, o setor sofre ainda com a insegurança física que afeta diretamente a produção e a distribuição, com problemas relacionados ao crime organizado, que dificultam o transporte de produtos agrícolas e agravam o colapso da cadeia de suprimentos.

Recomendações para a gestão de riscos nas empresas FAB

Diante disso, as empresas FAB devem adotar uma abordagem proativa, reavaliando suas operações e estratégias em torno de riscos estabelecidos e riscos mais novos e em evolução.

  • Adotar uma abordagem definida para o gerenciamento de riscos: à medida que as ameaças se tornam mais complexas e conectadas, é essencial abordar sua interconexão em toda a empresa. Ao reunir líderes de risco, seguros, finanças, tesouraria, meio ambiente, responsabilidade social e governança (ESG), recursos humanos e tecnologia da informação, garante-se uma abordagem de risco em toda a empresa que ajuda a melhorar a tomada de decisão e fortalecer a resiliência organizacional.
  • Priorizar o pensamento de longo prazo: o atual nível de volatilidade e o ritmo de mudança tornam o modo reativo de negociação insustentável. Uma abordagem de longo prazo, entendendo e antecipando ameaças futuras, permite que as organizações mitiguem riscos de forma proativa e aproveitem as oportunidades.
  • Impulsionar a inovação: investir em inovação por meio de avanços digitais e promover uma força de trabalho diversa ajudará a indústria FAB a desenvolver soluções e aproveitar oportunidade. A criação de uma Proposta de Valor para o Funcionário (EVP) em torno do risco climático apoia a atração e retenção de indivíduos comprometidos em fazer contribuições significativas para a sustentabilidade e a segurança alimentar global.

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