As ferramentas para as seguradoras enfrentarem as mudanças climáticas

Por Ricardo Saponara

Ricardo Saponara

Os eventos climáticos extremos, como furacões, inundações e incêndios florestais, têm se tornado mais frequentes e intensos ao redor do mundo, colocando um holofote em diversos setores da economia, tanto na esfera pública quanto nas empresas. No âmbito privado, o mercado de seguros é um exemplo de como está sendo colocado à prova pela sua capacidade de prever, precificar e atender segurados que são vítimas dos efeitos das mudanças climáticas. Porém, ao olhar para uma série histórica de acontecimentos, principalmente, no Brasil, é possível perceber uma certa frequência em desastres climáticos.

Ano após ano, presenciamos desastres acontecendo em diferentes localidades. Em janeiro de 2011, por exemplo, a região serrana do estado do Rio de Janeiro foi extremamente afetada por fortes tempestades. Na época, foram registradas 918 mortes e 100 desaparecimentos, além 35 mil pessoas que perderam suas casas ou ficaram desabrigadas por riscos de desmoronamento. Em fevereiro de 2022, a cidade de Petrópolis, também na serra do RJ, passou por uma tragédia semelhante. No ano seguinte, o Litoral Norte de São Paulo foi prejudicado. E, obviamente, não posso deixar de citar a atual situação do Rio de Grande do Sul.

Os meus mais de 20 anos atuando com tecnologia me permitem adicionar, a esse contexto das seguradoras, o uso de recursos tecnológicos que já vêm contribuindo para que outros setores atuem de modo preventivo na proteção à população ou aos usuários de determinados serviços. Ou seja, se inspirar em como outras áreas estão aplicando tecnologias em seus modelos de negócios é uma estratégia que trará bons resultados para as empresas de seguros, incluindo, também, vantagens para os segurados.

Por exemplo, a telemetria, uma ferramenta adotada por aplicativos de mobilidade para analisar o comportamento de motoristas e notificá-los sobre maus hábitos que podem representar riscos na direção veicular. Isso significa agir na prevenção de acidentes e problemas, tanto para o passageiro quanto para o próprio condutor. O mesmo recurso poderia ser usado por seguros de automóveis para alertar os motoristas sobre a importância de manter práticas seguras no trânsito, atuando na tentativa de evitar acidentes. Dessa forma, o número de sinistros seria reduzido, e o segurado também teria que lidar com menos problemas.

No caso específico de desastres climáticos, os sensores de georreferenciamento podem simular o aumento do nível do mar ou de rios, por exemplo, e calcular quais bairros ou municípios podem ser afetados caso ocorra uma inundação. Com isso, as seguradoras podem fazer uma análise de dados sobre diversos fatores, como exposição ao risco da carteira, precificação, solvência da empresa e apoio às vítimas. Essa estratégia pode servir até mesmo para criar novos produtos.

Mais uma vez, olhar para o que outros mercados e países estão fazendo pode contribuir para evitar que desastres climáticos atinjam grande parte da população. A capital da Indonésia, Jacarta, tem 13 grandes rios, e 40% do seu território está abaixo do nível do mar, por isso, tem um longo histórico de inundações que afetam cerca de 11 milhões de habitantes. Sendo assim, o governo local construiu um sistema de análise de dados em tempo real sobre chuvas, nível das águas e fluxo fluvial para prever e prevenir inundações. Foram usados diversos tipos de tecnologia, como inteligência artificial (IA), aprendizado de máquina, sensores conectados por IoT, entre outros. O projeto faz parte do Sistema de Controle de Inundações da cidade.

Em uma era de rápida evolução tecnológica, o mercado de seguros tem também à disposição diversas tecnologias emergentes que podem ser testadas, como a IA generativa para a geração de dados sintéticos. O objetivo é simular diversos cenários, auxiliando na análise de situações complexas em que os dados reais são escassos ou inexistentes. Um exemplo disso são as catástrofes climáticas extremas em regiões sem histórico de inundações, desabamentos, furacões ou incêndios. Seguindo o mesmo exemplo de simulação do aumento do nível do mar, é possível ter dados sintéticos sobre como uma região é afetada criando hipóteses.

Ao usar soluções que ainda estão emergindo, as seguradoras também têm a oportunidade de avançar em suas respectivas jornadas de transformação digital para aumentar a competitividade e serem mais inovadoras. O cenário é complexo e desafiador, porém, o mercado de seguros já tem todas as ferramentas para avançar e serem ainda mais valiosas para a sociedade.

*Ricardo Saponara é Líder da Prática de Prevenção a Fraudes, Abusos, Desperdícios e Crimes Financeiros para a região Américas do SAS.

Revista Cobertura desde 1991 levando informação aos profissionais do mercado de seguros.

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