O setor de seguros é conhecido por ser muito previsível, mas ainda um pouco desconhecido do mercado como um todo. Atualmente, o produto de seguros ainda é “marginalizado”, e isso ocorre por diversos motivos: bancos vendendo produtos que não estão alinhados às necessidades dos clientes, falta de transparência por parte de alguns corretores, a percepção dos clientes de que os profissionais não são qualificados, experiências de compras ruins, problemas com indenização e a percepção (equivocada) do não pagamento de indenizações.
Outro ponto é que aqui no Brasil, especificamente, as pessoas têm a falsa impressão de que o mercado se restringe ao seguro de automóvel. Porém, não podemos nos esquecer da premissa básica da contratação de seguros, que é o equilíbrio econômico da sociedade. Em momentos de pandemia e crise financeira sua importância tem sido fundamental. Nota-se o aumento da sinistralidade em algumas linhas de negócios, como, por exemplo, nos seguros de saúde, que sofreram alguns impactos com o aumento exponencial do número de internação desde o início da pandemia.
Vemos também o aumento do interesse da sociedade em relação às apólices de seguros de vida, que vem sendo bastante comercializada ultimamente, até mesmo em função da covid-19 e a maior conscientização da necessidade de proteção por parte das pessoas. Existem ainda outros produtos que estão crescendo e mostram a força dessa indústria, que nos últimos anos vem crescendo acima dois dígitos, com exceção do ano de 2020, que foi atípico. Em 2021 o setor já apresenta uma retomada forte em relação ao ano passado e a expectativa é fechar o ano com um crescimento entre 15% e 18%.
Embora os números sejam bons, a penetração dos seguros no PIB nacional ainda é muito pequena – na casa de 3% –, o que significa que temos grandes oportunidades nesse setor nos próximos anos. Também existe muito espaço para evolução no que tange tecnologia, produto e distribuição. Além disso, os investimentos em infraestrutura devem impactar positivamente esse mercado.
Nos últimos meses, temos visto uma aceleração muito forte em relação a inovação no setor de seguros. Há muita coisa acontecendo hoje com a entrada de novos players (insurtechs) e seguradoras mais leves (sandbox). Com as novas regulamentações da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), principalmente o marco da questão do sandbox, que é uma regulamentação um pouco mais flexível, o mercado passa a ter acesso a novos produtos e também maior capacidade de inovação. Já temos mais de dez participantes desse modelo que estão trazendo novos produtos para o mercado, o que até pouco tempo atrás seria impossível. Evolução e mais transparência em relação ao modelo de distribuição e aumento do nível de qualificação dos profissionais são outras grandes tendências para o mercado segurador.
O seguro de automóvel “pay per use” é um exemplo de produto inovador, já que o cliente paga pelo seguro apenas quando utiliza o automóvel. A flexibilização aproxima as pessoas do mercado como um todo, proporciona uma experiência mais fluida para o cliente final, contribuindo para que conheçam e contratem outros produtos (além do seguro auto), como seguro de vida, acidentes pessoais, responsabilidade civil etc. Na esteira de produtos que vem se destacando desde o início da pandemia, estão o seguro de saúde PME – de 30 até 100 vidas – e o seguro garantia, que apresentam aumento significativo da procura e comercialização.
No longo prazo, a reboque dos R$ 700 bilhões de investimentos em saneamento, produtos como riscos de engenharia, riscos diversos, patrimoniais, transporte, saúde e vida devem se destacar, uma vez que irão oferecer cobertura para toda essa indústria que irá trabalhar nas obras. São os ramos de seguros que devem alavancar o setor nos próximos anos. Sob a perspectiva de produtos e proteção, a indústria de seguros está 100% preparada para lidar com momentos críticos/atípicos. Ela está muito amparada, de diversas formas, e qualificada para fazer as devidas indenizações. Vale destacar que as próprias seguradoras compram proteção através de resseguradores, diluindo assim o risco.
Por fim, há o desafio de fazer com que a sociedade tenha uma visão mais positiva do setor. Nesse sentido, a indústria tem pela frente a missão de disseminar e popularizar a cultura do seguro. Só assim poderá explorar novos nichos, continuar inovando e alcançar todo o seu potencial.
***Christian Wellisch é sócio-fundador da corretora Globus Seguro