Por Daniela Dall´Acqua, diretora de recursos humanos da MetLife Brasil
Quando eu decidi ingressar na faculdade de Serviço Social e trabalhar no mercado corporativo, no início da década de 1990, muitas vezes fui questionada, pois era aparentemente contraditório querer juntar causas sociais e trabalho em empresas lucrativas. A atuação social era vista como exclusividade do poder público e de ONGs. Hoje, quase 30 anos depois, este cenário mudou completamente: nos vários grupos de relacionamento de executivos que participo, praticamente todos têm interesse ou necessidade de se aprofundar na agenda ESG, que engloba tópicos sociais, de proteção ambiental e de ética e transparência. Desde então, o mercado tem demandado cada dia mais conhecimento de ESG, e uma das primeiras áreas a liderar a adoção de práticas ESG foi justamente Recursos Humanos.
Apesar de parecer um termo recente, o ESG tem sua origem na década de 70, sendo desenvolvido a partir de um outro termo: Socially Responsible Investing (SRI). Nessa época, os investidores estavam começando a tomar consciência sobre a importância de considerar a atuação social das empresas e fundos nos quais investiam. Com isso, criaram o SRI como uma métrica que indicava quais eram aqueles que efetivamente atuavam nesse aspecto. Foi só em 2005 que o SRI foi substituído pelo ESG. Por ser uma sigla que incorpora meio ambiente, sociedade e governança, o ESG parecia uma métrica mais completa para avaliar a atuação das organizações. Ele apareceu pela primeira vez no relatório “Who Cares Wins”, criado pela ONU. A partir desse momento, essa sigla vem ganhando cada vez mais destaque na sociedade. Hoje, as empresas já entenderam que a adoção de melhores práticas ambientais, sociais e de governança são essenciais tanto para protegê-las de riscos futuros, como para trazer mais produtividade para a empresa, através de fatores tão diversos como aumento da proposição de valor ao funcionário, fidelização dos clientes, economia em gastos com recursos ambientes, garantia de ética e transparência nas negociações, e muitos outros objetivos tangíveis e mensuráveis que se revertem em lucro e geração de valor.
Alguns pontos de ESG são diretamente relacionados ao RH, particularmente como a empresa se relaciona com os seus funcionários, englobando questões sociais como equidade salarial entre gêneros, diversidade e inclusão desde o processo de recrutamento, combate ao assédio no ambiente de trabalho, etc. Durante todo o ciclo do funcionário na empresa a área de RH pode causar impacto na agenda de ESG: desde o momento da contratação, com práticas de recrutamento mais inclusivas, que promovam a diversidade até a criação de metas de remuneração variável com indicadores de ESG, passando pela estruturação da empresa de forma a fortalecer a Governança.
Além disso, ações ESG precisam extrapolar os muros da empresa e envolver toda a cadeia produtiva, incluindo clientes, fornecedores e acionistas. Justamente pelo conceito ESG ter origem em múltiplas frentes, sua implementação não pode ser responsabilidade de uma única área e portanto nunca será uma responsabilidade exclusiva da área de Recursos Humanos, mas com certeza o RH é um protagonista com forte atuação na adoção da agenda ESG por todos funcionários da empresa, influenciando a implementação das iniciativas de ESG de forma ampla e consistente. Por exemplo, todos os colaboradores devem ter acesso a treinamentos que deixem clara a importância de ESG, bem como autonomia para fazer sugestões e implementar ações que tornem a empresa mais ética e socio-ambientalmente sustentável. O comprometimento da alta liderança com este tema deve ser comunicado e implementado internamente muito antes de ser comunicado externamente, sob pena de ser percebido como uma ação marqueteira vazia e não consistente com a realidade da empresa.
Assim, o papel do RH é fundamental para que a empresa adote e implemente a agenda ESG de dentro para fora, catalisando e mobilizando todos os funcionários na construção de uma empresa mais sustentável: projeto esse ainda em fase inicial de implementação na maior parte das empresas e, portanto, muito desafiador, mas muito alinhado aos valores da área de Recursos Humanos.