Quando o assunto é contratação de seguro, seja qual for a modalidade, é comum as pessoas se esquivarem, fazerem mil e um questionamentos e dizer “depois eu vejo esse assunto”. Isso acontece por conta dos mitos que se criaram entorno desse mercado. Embora não de forma tão explícita, boa parte da população – principalmente por questões culturais – ainda tem uma certa resistência em buscar a contratação de seguros, seja por acreditarem que nunca precisarão acionar a seguradora ou por terem uma visão distorcida sobre as indenizações. Inclusive, esta última ainda é um tabu para muitas famílias.
Para analisar melhor o cenário, vejamos: em seu ciclo social, quantas pessoas já comentaram que têm ou que planejam aderir a um seguro de vida, por exemplo? Talvez uma ou duas, no máximo. E, quando se tem, muita das vezes é vinculado aos benefícios da empresa em que se trabalha. Aqui já identificamos um dos reflexos provocados pelo imaginário em torno da indústria. Afinal, é comum reproduzirem: “por que devo contratar um serviço que ficará para outra pessoa?”. Este é o primeiro de três mitos do setor que listarei ao longo deste artigo.
No entanto, antes de passarmos para o próximo tópico, vale ressaltar que as pessoas esquecem da premissa básica do setor de seguros, que é o reequilíbrio econômico. Isso porque o produto não deve ser encarado de forma problemática, mas sim como um auxílio para uma eventual ausência do provedor financeiro do grupo. Ou seja, podemos tê-lo como um planejamento financeiro.
Já a segunda visão deturpada do produto está ligada aos automóveis. Costumamos dizer – novamente por questões culturais – que seguro de carro não é vendido e sim comprado. Isso porque o brasileiro valoriza bastante proteção desse bem material, como se a adesão ao item de segurança fosse obrigatória. Contudo, esbarramos na ilusão que uma apólice mais enxuta irá atender as expectativas do contratante, visto que – na concepção do indivíduo – é um serviço pouco ou quase nunca utilizado. É nesse ponto que o mito pode se tornar uma frustração. É necessário alertar que quanto menor o custo da cobertura, menor será a indenização.
Já o terceiro e último mito está relacionado às negativas por parte das seguradoras a respeito das indenizações; logo, muitos acreditam que o setor é repleto de “pegadinhas”. No entanto, essas desventuras são provocadas por uma venda mal feita ou por falta de entendimento na contratação do produto. Por isso, é fundamental pesquisar bastante antes de fechar um contrato e negociar com empresas experientes e confiáveis para evitar esse tipo de problema.
Quebrar esses estigmas não é uma tarefa fácil, mas também não é impossível. Para essa desmitificação é preciso que o mercado realize novas mudanças, começando por uma reeducação. Primeiro, retirar o preconceito sobre o tema. Seguros, inclusive de vida, devem ser discutidos de forma natural. Outro ponto é na parte técnica/burocrática: as nomenclaturas das apólices podem ser bem complicadas e confundem clientes e, eventualmente, os profissionais do meio. É necessária uma adaptação com linguagem mais simples e clara.
Por fim, destaco que, embora marginalizado por muitos, o mercado de seguros vem se transformando. As redes sociais e as insurtechs têm apresentado um papel fundamental nesse movimento, proporcionando inovação ao setor. Além disso, se a população brasileira compreender a importância do seguro, tanto como planejamento financeiro como para a economia, podemos, talvez, um dia ser referência global na indústria — assim como no Japão e nos Estados Unidos.
*Christian Wellisch é CEO e sócio-fundador da corretora Globus Seguros