Discussão sobre os efeitos climáticos reconhece o seguro como instrumento importante de adaptação e mitigação

Mitigação ou adaptação? Setor de seguros integra discussão sobre a criação de cidades resilientes em debate promovido pelo Instituto Clima e Sociedade

Segundo um relatório divulgado pela NASA, o Brasil poderá se tornar inabitável em 50 anos devido aos efeitos do aquecimento global. Os dados publicados pela revista científica Science Advances, apontam que os termômetros acima de 37 graus com umidade do ar igual ou superior aos 70% podem causar morte precoce em até seis horas e exposição.

O dado alarmante e o fato de o Brasil ser cada vez mais afetado pelos efeitos extremos climáticos, vide a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, torna emergencial as discussões sobre as soluções para minimizar os impactos na sociedade, especialmente na população residente em áreas vulneráveis. É essa a proposta do Instituto do Clima e Sociedade (ICS) ao reunir integrantes de diversos setores para discutir “The Impacts of Climate. Change: How to scale up adaptation finance and build resilient cities” durante evento realizado em 23 de julho, no Rio de Janeiro.

“É um problema societal, que afeta todo mundo. Como trabalhar melhor em conjunto com seguros, ciência e bancos para pensar e entender tipos de formas de investir em restauração de infraestruturas para integrar essa realidade que, infelizmente, está chegando e como podemos atuar para preparar as populações que estão nessas regiões”, destacou Maria Netto, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS), sobre a discussão que consiste em como coordenar e melhorar esse trabalho para preparar a sociedade para uma situação que não vai mudar. “O Brasil tem muito a fazer”.

“O ritmo que as mudanças climáticas acontecem não permitem mais que trabalharemos no ritmo que seguíamos. Quanto mais tempos esperarmos, mais caro se torna”, assinalou Jorge Gastelumendi, Global Policy Director Atlantic Center.

Diosmar Filho, Scientific Coordinator Iyaleta Research Association: “Dos 8 bilhões da população mundial cerca de ¾ precisa sair da vulnerabilidade e ir para a resiliência. Não podemos ter uma agenda climática que não considera que o risco se agrava com as desigualdades”

Cidades vulneráveis

Os eventos estão mais frequentes e fortes e as pessoas mais afetadas são as mais vulneráveis. “Precisamos ver como nos adaptar a essa realidade porque não será fácil. Os setores público e privado precisam atuar mais próximos, discutir o que é necessário. Precisamos ir muito além e de projetos de adaptação que gerem fluxo de caixa”.

“Para adaptar infraestrutura tem que identificar as mais vulneráveis, os riscos aos quais estão expostos, identificar os danos potenciais, estimar o valor dos danos, propor medidas de adaptação factíveis, estimar os custos das medidas e ver se elas compensam”, recomenda Sergio Margulis, consultant anda sênior researh associate International Institute for Sustainability (IIS).

Diosmar Filho, Scientific Coordinator Iyaleta Research Association, lembra que as áreas vulneráveis estão mapeadas no Brasil. “Não é difícil entender o impacto, o difícil é a solução. O risco só se agravará se você não eliminar o que é desigualdade. Dos 8 bilhões da população mundial cerca de ¾ precisa sair da vulnerabilidade e ir para a resiliência. Não podemos ter uma agenda climática que não considera que o risco se agrava com as desigualdades”, alertou Filho, para quem a agenda de mitigação vai produzir mais desigualdade se não alcançarmos a adaptação.

Maria Netto (iCS) e Dyogo Oliveira (CNseg): “Os seguros têm diferentes papéis nessa agenda, tanto em ajudar a entender os riscos como a ser parte da solução em termos de prevenção”

Como trabalhar o melhor entendimento desses riscos?

Se há algo que o mercado de seguros é especialista é em gestão de risco, por isso as empresas do setor têm muito a contribuir para a compreensão, mitigação e adaptação.

“Os seguros têm diferentes papéis nessa agenda, tanto em ajudar a entender os riscos como a ser parte da solução em termos de prevenção”, reconhece a diretora-executiva do ICS. “A adaptação nada mais é do que a prevenção de desastres”.

“O enfrentamento da crise climática vai exigir o maior esforço de coordenação entre pessoas, empresas, governos, instituições, universidades, centros de pesquisa, porque tem uma característica muito particular”, descreve Dyogo Oliveira, CEO da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

“Não ter investimentos em adaptação representa um aumento considerável do dano no futuro causado pela mudança climática no futuro. O seguro já é um instrumento de gestão de risco climático. Construção das soluções que vão reduzir o dano do futuro. Industria de gestão de risco é isso que seguro faz”.

Segundo Oliveira, o papel da gestão de risco é fundamental na discussão de adaptação. “Toda a agenda de mitigação é fundamental, mas ela aleija, mas não fazer a adaptação mata”.

A população vulnerável é a mais afetada e essa é a grande perversidade da mudança climática, na visão do presidente da CNseg. Por isso, é importante pensar no seguro social.

“Antes de falarmos da perda financeira e econômica temos de falar das perdas em vidas e nas vidas das pessoas impactadas pelo evento. É uma relação nexo causal. Como transferir risco? Entendendo o risco. O que aconteceu no RS, já aconteceu e vai continuar acontecendo. Esses riscos existem”, destaca Antônio Jorge Rodrigues, head da Howden Re Brasil, ao lembrar o papel dos seguros e resseguros na sociedade: reduzir grandes perdas.

Preparando os Estados para sustentabilidade

Renato Casagrande, governador do Estado do Espírito Santo: “Não dá para pensar em adaptação sem pensar em mitigação. Defendemos que cada estado tenha o seu programa de mudanças climáticas, pois dá a diretriz da direção em que vamos caminhar”

Rodrigo Perpétuo, Executive Director for South America do ICLEI, associação mundial de governos locais e subnacionais dedicados ao desenvolvimento sustentável, falou sobre a criação de mecanismos de seguro para infraestruturas urbanas resilientes, que tem a CNseg também como parceira. “O objetivo é fazer com que exista um mercado consolidado de seguros para as cidades. Projeto requer cuidado com dois lados: cidades, que não estão acostumadas a contratar seguro, e a oferta, por meio do desenho do seguro paramétrico”.

Para Renato Casagrande, governador do Estado do Espírito Santo, a adaptação é um pilar do programa de mudanças climáticas. “Não dá para pensar em adaptação sem pensar em mitigação. Defendemos que cada estado tenha o seu programa de mudanças climáticas, pois dá a diretriz da direção em que vamos caminhar. É preciso que o estado esteja equilibrado. Mitigação exige recurso e adaptação exige dinheiro para que possamos fazer as obras. Temos que ter os programas e ter capacidade de buscar financiamentos e buscar recursos próprios”, observou.

Segundo ele, o ES é um estado com vulnerabilidades, por isso alguns programas foram criados, como o Centro Especializado em Respostas a Desastres, que conta com financiamento do Banco Mundial. Também criou o Fundo Clima com compra de ônibus elétricos e proposta de contenção do avanço do mar.

O governo também estimula cada um dos 78 municípios a criarem projetos a partir do Fundo Cidades de Adaptação independente do tamanho, além do programa de apoio aos municípios para estruturar a secretaria de meio ambiente.

Ciente de que os estados e municípios têm papéis a cumprir com relação às mudanças climáticas, o governador do Estado do Espírito Santo, falou sobre o Consórcio Verde, atualmente integrado por 15 estados. “A ideia é que cada estado tenha o seu plano para que cada estado possa avançar. Cada um de nós, governadores e prefeitos temos um papel para alcançar as metas”.

Notícias relacionadas:

Prejuízos por enchentes no Rio Grande do Sul superam US$ 2 Bilhões, aponta Aon

 

Revista Cobertura desde 1991 levando informação aos profissionais do mercado de seguros.

Anuncie

Entre em contato e descubra as opções de anúncios que a Revista Cobertura pode te oferecer.

Eventos

Próximos Eventos

Mais lidas da semana

Mais lidas