Especialistas da saúde suplementar debatem estratégias contra fraudes e desperdícios e destacam a necessidade de medidas integradas para combater o problema
Larissa Godoy
Em um cenário onde quase 51 milhões de brasileiros possuem plano de saúde, o Seminário Saúde Suplementar: Acesso e Sustentabilidade, promovido pela Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) em parceria com o Estúdio Folha, nesta quarta-feira, 29, trouxe à tona uma discussão crucial: o combate às fraudes e desperdícios no setor. Este encontro entre líderes do setor de saúde suplementar no Brasil não apenas destacou os desafios enfrentados, mas também pavimentou o caminho para soluções.
De acordo com relatório realizado pelo Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), entidade sem fins lucrativos que estuda o setor, as perdas decorrentes dessas práticas fraudulentas atingiram entre R$ 30 bilhões e 34 bilhões em 2022, uma cifra considerada “conservadora” pelos especialistas.
Luiz Celso Dias Lopes, presidente do IESS, destacou a gravidade dessa questão e ressaltou a necessidade de uma mudança cultural no Brasil: “Infelizmente, temos uma questão cultural no Brasil um pouco mais tolerante à fraude. Precisamos ser mais rigorosos na gestão e prevenção desses problemas”, enfatizou.
Outro ponto crítico discutido durante o evento foi o desafio demográfico que o Brasil enfrenta. Com uma população que envelhece rapidamente, a necessidade de cuidados de saúde especializados para idosos é uma realidade cada vez mais presente. No entanto, não se trata apenas do envelhecimento da população.
“Além desse desafio, que é real, e que o Brasil passa por esse fenômeno numa velocidade muito maior do que aconteceu nas economias ou nos países desenvolvidos. Nós temos um fenômeno adicional, que é uma pressão justamente na outra ponta da pirâmide, na faixa etária do zero aos 18 anos. Hoje, o número de terapias por beneficiário dessa faixa de 0 a 18 anos é igual ao número de terapias das pessoas com mais de 80 anos”, comenta Renato Casarotti, presidente da Abramge.
A tecnologia também teve seu lugar de destaque nas discussões. Embora a inovação tecnológica seja considerada fundamental para o avanço do setor, os especialistas presentes enfatizaram a importância de equilibrar essa inovação com a sustentabilidade financeira.
“Temos uma preocupação e um desafio grande com a questão da própria incorporação tecnológica. Isso é fundamental para que a gente possa oxigenar e manter esse equilíbrio de pacto geracional. Mas não existe uma bala de prata, nem para a fraude, nem para resolver todos os problemas da saúde”, aponta Jorge Oliveira, presidente do Grupo Promédica.
Além disso, a apresentação de estudos detalhados sobre a tipologia das fraudes foi apontada como essencial para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e combate eficazes. Essas estratégias baseadas em dados e tecnologia têm o potencial de fortalecer o setor contra práticas fraudulentas. “Todos nós sabemos que o olho humano consegue olhar muita coisa, mas, infelizmente, as máquinas detectam mais padrões do que nós. E isso nos dá conhecimento que pode ser disponibilizado para todas as operadoras do sistema”, diz Nuno Vieira, sócio de serviços financeiros na E&Y.
#TodosPorTodos: Um Movimento Transformador”
Um dos pontos altos do seminário foi a discussão sobre o programa ‘Todos Por Todos com Muita Saúde’”. Esta iniciativa, lançada pela Abramge, visa a promover uma maior proatividade no setor, mudando a maneira como a saúde suplementar é percebida e gerida no Brasil, além de desmistificar e informar sobre a realidade dos planos de saúde.
“O movimento é para mostrar a coletividade. É mostrar que são todos por todos. E, queira ou não, a gente tem aqui uma ferramenta que não está baseada no individualismo, e, sim, na coletividade. Queremos mostrar para as pessoas como funcionam os planos de saúde, pensando coletivamente”, destacou Marcos Novais, superintendente executivo da Abramge.