Status vacinal e faixa etária impactam o risco no seguro de vida

O desenvolvimento da Covid e seus reflexos no setor de seguros, como a síndrome da Covid longa, foram discutidos durante X Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada realizado pela FenaPrevi

“Como a Covid-19 iria se desenvolver ao longo do tempo e como isso afetaria o mercado de seguros”. Com essa missão, a equipe do Labma/UFRJ desenvolve pesquisas em apoio ao mercado segurador e busca apoio técnico com o objetivo de prever o que pode acontecer em um futuro próximo.

Thaís Fonseca, doutora em estatísticas, professora do IM/UFRJ e pesquisadora do Labma/UFRJ, representou o grupo de pesquisadores no X Fórum Nacional de Seguros de Vida e Previdência Privada, realizado ontem, 1 de setembro, em São Paulo.

Segundo ela, no laboratório eles desenvolvem as tábuas de risco para sobrevivência e mortalidade e, nos últimos anos, passaram a trabalhar com pesquisas em risco de longevidade, assunto que tem sido mais importante, além de pesquisa relacionada à covid nos últimos tempos, que trouxe diversos riscos ao mercado.

“Estamos trabalhando ao longo da pandemia, buscando os melhores dados, modelos e insumos que permitam que tenhamos ter mais segurança quando estamos falando em tábuas de mortalidade e produtos até de invalidez, como honrar compromissos e ser previsível, em um momento em que temos muitas incertezas”, explica Thaís.

Dada a subnotificação dos casos no Brasil, os pesquisadores buscaram dados em diversos países. De acordo com a pesquisadora, com relação à letalidade da doença nos EUA, observa-se uma grande diferença do impacto da doença entre vacinados e não vacinados, algo essencial quando se mede o risco em tábua de mortalidade. A faixa etária também é muito importante. Tem uma variação de risco muito significativa quando observadas faixas etárias diferentes.

“Se tenho 10% a mais de pessoas vacinadas com duas doses, reduzo o meu risco em 33%. Se passo a ter 40% a mais de pessoas vacinadas, reduzo o risco em quase 80%. Com isso, chegamos a um patamar de quase não ter preocupação com a doença”, comentou Thaís ao lembrar que, neste caso, a quantidade de idosos e vacinados impactam diretamente.

Síndrome da covid longa

Mauro Veras, médico consultor do mercado de seguros, ressaltou que a Covid-19 deixou um rastro de destruição e problemas, que afetou também o setor.

“Por um lado, as pessoas passaram a valorizar mais a proteção à vida. Porém, logo vieram os sinistros e um grande impacto para o mercado segurador. Em muitos mercados, tivemos que fazer um recalibragem nas taxas de seguros de vida, o que era incomum, pois estávamos tendo queda no preço do seguro de vida progressivamente nas últimas décadas. Ainda há uma série de outros problemas que desconhecemos porque a covid continua afetando o mercado segurador”.

Um desses problemas é a chamada condição pós-Covid-19, síndrome pós-Covid-19 ou Covid longa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição pós-Covid-19  ou a síndrome da Covid longa consiste em o paciente apresentar sintomas que tenham surgido com o diagnóstico de Covid-19 e que não tenham sumido mesmo depois de 12 semanas, ou seja, três meses após o raio da infecção.

“Uma infecção de Covid dura cerca de 2 a 3 semanas. Só a partir da 12ª semana é que vamos dar o nome de Covid longa. Geralmente, nesta fase os pacientes que melhoraram, voltam a apresentar os sintomas, embora alguns possam persistir com os sintomas desde o início”.

Para ele, a Covid longa traz um cenário de muitas incertezas e precisa ser entendida melhor. “Não sabemos qual é a incidência da Covid longa. Mas sabemos que existe uma clara relação entre covid longa e severidade da infecção inicial e que a fadiga e as alterações cognitivas são os principais sintomas”.

“Não podemos definir se os danos causados pela Covid serão indeléveis ou passageiros. Algumas experiências mostram que sim, que a fibrose pulmonar pode ser reversível como a experiência de alguns países europeus revela”, citou Dra. Margareth Dalcomo, pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz.

Retrocesso na educação e na formação dos futuros consumidores

Na visão de Marcelo Neri, diretor da FGV Social e professor da FGV, o setor de seguros e previdência tem um enorme desafio cultural no Brasil. Inclusive, ele citou a educação no país como uma área fortemente impactada pela Covid-19.

Ao citar dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid, ele mencionou que apenas 18% das pessoas que fizerem isolamento tinham 60 anos ou mais. Já entre as crianças de 5 a 9 anos foram 26% e, de zero a 4 anos, 34%. “As crianças, que eram o grupo menos suscetível no sentido médico, foram as que mais se isolaram, o que, de alguma forma, dá um presságio sobre o impacto da pandemia na educação”.

Neri ainda lembrou que, entre a população de 5 a 9 anos, a evasão escolar que vinha caindo ao longo das últimas quatro décadas, triplicou na pandemia, pois saiu de 1,8% e foi para 5,5%.

“Basicamente voltamos para os números de 2007. A evasão escolar é uma parte da história. Temos o tempo de estudo das crianças que continuaram matriculadas e frequentando a escola, que caiu bastante. No Brasil, em 2006 cada criança  de 6 a 15 anos estudava 4 horas e 7 minutos – o padrão internacional é de 7 horas. Na pandemia, caiu para 2 horas e 23 minutos. Isso sem falar da efetividade deste estudo. Estamos falando de um grande retrocesso na educação”.

Dra. Margareth Dalcomo lembrou que daqui a 30 anos seremos um país de idosos e é necessário ter muito clara a construção de uma linha de cuidados. “Em 2040, o Brasil terá 27 milhões de pessoas com mais de 65 anos. Precisamos nos preparar para ter uma linha de cuidados para prevenir e proteger essas pessoas. Oferecer algo que não seja só alento, mas que seja objetivamente uma condição de termos uma geração que vai nos substituir, sobretudo na saúde e na educação”.

Quanto à vacina, ela comentou que não é necessário tomar a quinta dose, mas sim aguardar a nova geração de vacinas. “Se vamos ou não precisar tomar a vacina para Covid-19 todos os anos, essa resposta ainda não está dada”, disse a pneumologista, que alertou: “Essa não é a última pandemia que viveremos”.

NOTÍCIAS RELACIONADAS:

Discussão sobre o risco de morte deixa de ser tabu

FenaPrevi debate potencial dos seguros de pessoas no encontro com o CVG-SP

Revista Cobertura desde 1991 levando informação aos profissionais do mercado de seguros.

Anuncie

Entre em contato e descubra as opções de anúncios que a Revista Cobertura pode te oferecer.

Eventos

Próximos Eventos

Mais lidas da semana

Mais lidas