Com juros ainda altos, as empresas da América Latina enfrentam uma maior demora para receber pagamentos referentes a transações com outras companhias. Pesquisa realizada pela Coface, líder global de seguro de crédito e pioneira no fornecimento de informações comerciais de qualidade, mostrou que 51% das empresas latino-americanas convivem com atrasos de pagamentos de vendas realizadas e que o atraso médio este ano subiu para 52 dias, um salto expressivo na comparação aos 36 dias de 2023.
No Brasil, o atraso médio também cresceu (embora em níveis mais modestos) e ficou em 33 dias este ano, em comparação a 29 em 2023. Na Argentina, passou de 29 para 45 dias e no México foi de 37 para 55 dias na mesma base de comparação. O atraso médio em dias aumentou em todos os países, principalmente no Equador, Colômbia e Peru.
A pesquisa da Coface, que ouviu 468 empresas de todos os países da região, revelou que o aumento do atraso médio (em dias) aconteceu em quase todos os setores pesquisados, com destaque para Farmacêuticos e Têxteis. A única exceção foi o segmento de Madeira, em que a média caiu de 53 para 16 dias.
De acordo com o levantamento, 70% dos entrevistados alegaram que o principal motivo dos atrasos no pagamento é a inadimplência dos clientes, seguida por queda da demanda (29%) e problemas na cadeia de fornecimento e aumento dos preços de componentes usados na produção, ambos com 25%.
Para o futuro, as empresas mostraram-se otimistas em relação a seus negócios, mas pessimistas quanto ao comportamento geral da economia. A fatia dos que esperam aquecimento nas atividades de suas companhias foi de 54%, enquanto apenas 20% preveem melhora na atividade econômica geral.
Os maiores riscos apontados pelos entrevistados para os próximos 12 meses, mostrou a pesquisa, são a desaceleração da atividade econômica e aumento da competição, além de tensões geopolíticas globais. Também preocupam os custos trabalhistas e as altas taxas de juros reais, além de interrupções nas cadeias de suprimentos.
Os altos custos de energia (incluindo eletricidade e gás) são apontados como outro fator de risco pelas empresas da América Latina. Predomina na região a elevada dependência de hidroelétricas como principal fonte de energia (no Paraguai, por exemplo, essa dependência é próxima de 100%) e as previsões de volta do fenômeno climático La Niña pode trazer chuvas intensas em algumas regiões mas secas em outras, o que mantem o alerta quanto ao custo de fornecimento de energia.
O câmbio, embora não seja uma preocupação dominante, também foi lembrado na pesquisa como fator de risco para os próximos meses. Levantamento da Coface com dados da Refinitiv e Datastream mostra que essa cautela é pertinente: o comportamento da taxa de câmbio comparando moeda local com o dólar norte-americano este ano (até dia 22 de outubro) mostra desvalorização de 17% tanto no Brasil quanto no México.