Três em cada cinco seguradoras preveem incrementos mais substanciais ao longo dos próximos três anos. Brasil também sentirá esse aumento
Os custos dos benefícios de saúde fornecidos pelas empresas terão pouco ou nenhum declínio em 2024, conforme revelou a pesquisa da WTW, uma das maiores empresas de consultoria e corretagem de seguros do mundo. Um ano depois de atingir uma inflação histórica de dois dígitos, o setor continua prevendo aumentos maiores ou significativamente maiores nos próximos três anos. De acordo com a pesquisa, cerca de 60% das seguradoras preveem aumentos de custos médicos.
A pesquisa Global de Tendências Médicas da WTW descobriu que o custo dos planos de saúde globalmente saltou de 7,4% em 2022 para um recorde de 10,7% em 2023. A tendência de custos reportada pelas seguradoras para 2024 é projetada em uma média de 9,9%. Esse número é influenciado por variações em regiões ao redor do mundo, com algumas mostrando pouca ou nenhuma mudança de 2023 a 2024, e outras registrando ligeiras diminuições ou aumentos.
A redução mais significativa na taxa é prevista para a Europa, passando de 10,9% em 2023 para 9,3% em 2024. Já no Oriente Médio/África, temos uma projeção de crescimento de 11,3% em 2023 para 12,1% em 2024.
Vários fatores estão contribuindo para as variações apontadas acima. A propagação da COVID-19 em ondas durante a pandemia produziu grandes oscilações, por exemplo, na utilização dos planos de saúde e ambulatoriais.
Observamos aumento de procedimentos eletivos, consultas e outros cuidados médicos decorrentes de uma demanda reprimida ocasionada pela pandemia e, pela mesma razão, o agravo de doenças por falta de cuidados. Em contrapartida, a inflação global, ficou mais moderada em 2023 e deve continuar caindo em 2024.
Todavia, ”embora alguns aumentos de custos sejam projetados para diminuir em 2024, eles permanecem em níveis significativamente altos”, disse Linda Pham, diretora sênior de Soluções Globais Integradas da WTW.
”O alto custo das novas tecnologias médicas é uma das principais razões para a tendência persistentemente alta. Além disso, em algumas regiões, os conflitos geopolíticos em curso e as populações deslocadas resultantes afetaram negativamente os custos médicos devido a uma maior necessidade de cuidados e à redução da disponibilidade de provedores”, complementa.
Tendências médicas globais: aumentos nos custos dos benefícios de assistência médica, 2022-2024
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*Os números globais e da América Latina excluem Argentina e Venezuela
O principal impulsionador dos custos médicos, de acordo com as seguradoras, continua sendo o uso excessivo de cuidados (59%) devido a profissionais médicos recomendando ou prescrevendo muitos serviços. Quase metade das seguradoras (49%) também indica que os maus hábitos de saúde dos segurados estão entre os principais fatores. A subutilização ou falta de serviços preventivos (47%) também é um fator significativo de custos.
A adição de serviços de bem-estar (54%) foi a maior mudança que as seguradoras fizeram em sua carteira médica em 2023. A pesquisa também constatou que as ofertas de telessaúde continuam sendo uma prioridade para as seguradoras. Quatro em cada dez entrevistados (41%) adicionaram serviços de telessaúde em 2023, tornando-a a segunda mudança mais prevalente que as seguradoras fizeram em suas ofertas.
“Os empregadores estão enfrentando aumentos de custos mais altos e, também, o potencial de volatilidade significativa, tornando ainda mais difícil orçar e planejar. Diante desse ambiente, a indecisão não é uma opção. As empresas devem entender sua tolerância ao risco, revisar as ofertas atuais para garantir o valor ideal e explorar estratégias para equilibrar as pressões de custos com a necessidade de apoiar a experiência do empregado. Ao entender os fatores que afetam os cuidados de saúde e impulsionam os custos em suas populações, os empregadores podem efetivamente combater a ameaça sempre presente do aumento dos custos”, disse Debby Moorman, chefe de Benefícios de Saúde da WTW na América do Norte.
Recorte Brasil
No Brasil, os efeitos dos tratamentos médicos postergados por conta da pandemia da COVID-19 continuarão influenciando os custos com saúde até 2024. Acentuando ainda mais essa tendência, a Agência Nacional de Saúde ampliou a lista de tratamentos obrigatórios a serem incluídos nas coberturas das seguradoras privadas, abrangendo muitos procedimentos de elevado custo.
Com isso, o relatório da WTW prevê que os custos de assistência médica no Brasil tenham um aumento de 16,62% em 2024, o que representa um crescimento de 0,31% em comparação com 2023. No triênio, o aumento foi de 1,9%.
Observa-se também um aumento na frequência de demandas relacionadas à saúde mental, como terapia clínica e psiquiatria. Paralelamente, cresce a apreensão referente ao modelo de reembolso em vigor (onde os segurados utilizam serviços fora da rede e recebem reembolso das seguradoras), devido à sua vulnerabilidade a práticas fraudulentas.