A economia global deverá crescer 2,6% em 2025, mantendo o nível previsto para o final de 2024 (também de 2,6%), e pouco abaixo dos 2,8% registrados em 2023. A estimativa é da Coface, maior seguradora de crédito do mundo e pioneira no fornecimento de informações comerciais de qualidade, que apresentou suas perspectivas econômicas para o próximo ano.
A previsão vale também para a América Latina, segundo o estudo da Coface, que estima crescimento de 2,0% em 2025 para a região, estável em comparação com 2024 e com ligeira queda em relação aos 2,3% registrados em 2023. O cenário é menos otimista para o Brasil: a Coface acredita que o PIB de nosso país terá alta de 1,8% no próximo ano, abaixo dos 3,0% previstos para 2024 e dos 2,9% registrados em 2023.
Pelo lado positivo, Bruno Fernandes, chefe global de Pesquisa Macroeconômica da Coface, destaca que os preços de energia permanecem moderados, apesar das tensões políticas. Ele lembra, no entanto, que a possibilidade de fechamento do Estreito de Hormuz continua sendo um foco de tensão. Trata-se de um território com 210 quilômetros de extensão que fica entre Irã, Omã e Emirados Árabes Unidos e que tem grande importância estratégica, já que por lá passam 27% do comércio marítimo de petróleo.
Bruno Fernandes recorda também que a política monetária caminha rumo a uma flexibilização gradual em países e regiões importantes: “A confirmação de desinflação nos Estados Unidos e na Zona do Euro permitirá que os bancos centrais reduzam as taxas de juros, sobretudo na Zona Euro, porque nos Estados Unidos o programa econômico de Donald Trump vai provavelmente alimentar as tensões inflacionárias ”.
O especialista considera que algumas das principais incertezas para a economia global em 2025 serão causadas pelos impactos do novo governo dos Estados Unidos: “Donald Trump definiu quatro prioridades que deverão ter consequências para todos: redução de impostos, com extensão do TCJA (Tax Cuts and Jobs Act, que reduz impostos para empresas e cria empregos); imigração, com controles de fronteira mais rígidos e deportação de imigrantes; política comercial com aumento de tarifas; e desregulamentação, que inclui entre vários pontos energia (por exemplo, a supressão de proibições de perfuração de petróleo) e finanças.”
Segundo Bruno Fernandes, o cenário nos Estados Unidos mostra que as finanças públicas do país estão à deriva, com previsão de que a dívida pública cresça para
157% do PIB em dez anos, incluindo a projeção dos déficits no governo Trump. Para o economista, o aumento de tarifas e o corte de gastos não serão suficientes para financiar a redução de impostos.
Quanto ao aumento das tarifas dos Estados Unidos, a Coface avalia que os principais impactos acontecerão na Ásia, especialmente na China, e na Europa, com destaque para a Alemanha.
Para a América Latina, uma das principais medidas da administração Trump será a adoção de uma política migratória mais agressiva. Na análise de Patrícia Krause, economista da Coface para AL, um possível aumento das deportações, se em grande magnitude, tenderia a causar pressão social nos países que recebem os deportados, em seus mercados de trabalho e através de uma redução nas remessas. Remessas enviadas por imigrantes trabalhando nos EUA para seus países de origem representam, por exemplo, 27% do PIB na Nicarágua, 26% nas Honduras e 23% em El Salvador.
Patricia Krause acredita também que as novas políticas de Trump poderão fortalecer o dólar. Tal movimento ocorreria num momento em que as moedas latino-americanas já sofrem uma tendência de depreciação em 2024, devido a questões externas (como o ritmo de redução de juros nos Estados Unidos) e internas (como as preocupações fiscais, no caso de países como Brasil e Colômbia). No ano até novembro, todas as principais moedas da região desvalorizaram face ao dólar, com destaque para o real brasileiro e o peso mexicano. Assim sendo, a volatilidade da taxa de câmbio poderá continuar em 2025.
A adoção de uma política comercial protecionista aumentou a vulnerabilidade principalmente do México, cujas exportações para os EUA representam 80% do total vendido ao exterior, e mais ainda com a renegociação prevista para 2026 do USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá), um substituto do NAFTA. Além disso os Estados Unidos têm registrado um déficit comercial crescente com o México. Por fim, há também a preocupação crescente por parte do governo americano de que se possa ter uma forte entrada de importações chinesas ao país via o México.
A China, avalia o estudo da Coface, continua a ter crescimento vacilante, com aumento moderado das vendas do varejo e dos investimentos, mas tendo como contraponto o setor imobiliário. Mesmo assim, continuará a desempenhar um papel importante para a América Latina. As exportações dos países da região para a China dispararam nos últimos anos, saltando entre 2013 e 2023 de 20% para 31% do total exportado no Brasil e de 25% para 39% no Chile, por exemplo.
A boa notícia para AL é que a inflação deverá perder força na região em 2025. Na comparação da Coface, os índices de preços também deverão diminuir no Brasil, embora os riscos estejam inclinados para cima (com as expectativas de inflação atualmente em ascensão). A queda deverá ocorrer inclusive na Argentina, que tem projeção de inflação anual em 2024 de 120%, ante 31,4% para 2025.
As condições de crédito, ainda restritivas, também deverão ser relativamente melhores no próximo ano na região, revela a Coface, mas o Brasil é a principal exceção. Aqui, a taxa básica de juros real deverá ficar próxima de 8% em 2025. Seus efeitos colaterais sobre a capacidade de pagamento das empresas são evidentes no Brasil, onde o número de pedidos de recuperação judicial aumentou acentuadamente desde 2023. Para 2025, a situação deverá permanecer desafiadora, uma vez que as condições de crédito continuarão restritivas.