Estudo da Coface analisa instabilidade nos preços dos metais

Os preços dos metais básicos se recuperaram em março e abril, com demanda acima do previsto e pelas necessidades da transição energética. No entanto, foi uma alta passageira já que as cotações recuaram a partir do início de junho. A constatação é de estudo global sobre o setor realizado pela Coface, líder global em seguro de crédito e pioneira em informações comerciais de qualidade.

O fornecimento de matéria-prima crítica será decisiva para os desafios do setor de metais, lembra a Coface. Nesse ponto, um os principais obstáculos é a competição global na produção desses produtos básicos, em um mercado muito concentrado liderado pela China.

A Coface recorda também que está aumentando o período de tempo entre a exploração e a produção de metais: “Esse período é atualmente de 16,3 anos em média, em consequência do maior tempo do processo que envolve exploração, autorização e financiamento.”

Para Simon Lacoume, economista da Coface especialista em Metais, no caso da produção de alumínio os desafios começam com a excessiva concentração no mercado de bauxita, matéria-prima básica para a produção do metal: “Guiné e Austrália dominam o fornecimento global. O Brasil é o quarto maior exportador de bauxita, com metade do volume vendido para o Canadá”.

Também no mercado global de alumínio predomina a concentração, constata a Coface, e a China está bem posicionada na cadeia de valor, de acordo com o estudo. Nesse produto, assim como em vários outros metais, o custo de energia tem grande importância. E nesse ponto a Europa está em desvantagem porque,explica a Coface, “os europeus continuam a ser negativamente afetados pela crise de energia de 2022, aomesmo tempo em que países do Golfo desenvolvem sua produção graças à energia ‘barata'”.

O cobre é um metal em que a produção é menos concentrada. Mesmo assim, a pesquisa mostra que os três países líderes na produção têm entre 40% e 50% da produção global. Simon Lacoume, especialista da Coface, destaca como um dos principais desafios do setor de metais a previsão de maior demanda pela transição energética: “O cenário é de que a demanda crescerá bastante. O cobre é altamente sensível nesse cenário, e o transporte rodoviário será fator determinante na descarbonização do transporte. Vale lembrar que o armazenamento de energia será a próxima barreira para o setor”.

Os desafios globais para fornecimento e mineração incluem, na avaliação do estudo da Coface, a menor graduação (‘grade”) dos minérios, esgotamento das minas em operação, incertezas políticas (nacionalização, insegurança etc.) e preocupações ambientais e sociais.

Para Simon Lacoume, é necessário levar em conta também o aperto das taxas de juros em vários países, que criam dificuldades para o investimento em mineração e inibem a diversificação e/ou a consolidação. Além disso, segundo ele, deve-se considerar as tensões comerciais entre Estados Unidos e China, que acontecem em um cenário em que a cadeia de fornecimento é componente vital da estratégia industrial.

AMÉRICA LATINA

O lítio tem ganhado relevância no setor de minerais da América Latina. Segundo o estudo da Coface, o “Triângulo do Lítio” (formado por Bolívia, Argentina e Chile) tem 53% dos recursos globais do produto, cada vez mais utilizado em baterias de dispositivos como smartphones, drones, computadores e veículos elétricos, entre vários outros. Com a perspectiva positiva para a demanda nos próximos anos, os produtores têm expandido a produção: o Brasil, por exemplo, que ocupa o 5o. lugar no ranking global do produto, aumentou em 86% sua produção anual em 2023,

Quanto ao setor siderúrgico, Patricia Krause, economista da Coface América Latina, afirma que a produção de aço da região reportou queda de 5% no acumulado do primeiro semestre de 2024 contra igual período de 2023. Enquanto o Brasil, o maior produtor cresceu 2%, o México e Argentina, segundo e terceiro colocados no ranking, tiveram quedas de 14% e 25%, respectivamente. No caso da Argentina, a queda pode ser facilmente explicada pela recessão econômica em curso, que afeta com grande intensidade seus setores automobilístico e de construção (grandes consumidores de aço).Já no México, o resultado chama a atenção, já que os mesmos consumidores mostraram-se resilientes no período.

De modo geral, os dados consolidados para a América Latina apontam uma leve alta do consumo de laminados de 0,7% nos primeiros cinco meses, que tem sido muito absorvido por importações com preços baixos extrarregionais (oriundas principalmente da China). Diante deste cenário, muitos países recorrem ao aumento de tarifas e/ou cotas de importação.

A boa notícia, segundo o levantamento da Coface, é que a América Latina está bem posicionada para fornecer metais críticos necessários para a “transição verde”. Na análise de Patricia Krause, a demanda por esses minerais vai crescer nos próximos anos como consequência dessa transição, incluindo o crescente desenvolvimento de baterias para veículos elétricos e as energias renováveis: “O continente poderá aproveitar esses ventos favoráveis como fornecedor de matérias-primas muito importantes, principalmente com cobre e lítio”.

A economista ressalva, no entanto, que há desafios que podem afetar de alguma maneira grandes investimentos necessários para expandir o fornecimento de minerais. As companhias que operam no setor convivem muitas vezes com crescente papel do governo, oposição das comunidades locais (algumas vezes incluindo bloqueios de rodovias importantes) e greves ocasionais dos trabalhadores.

Mesmo com esses desafios, recorda Patricia Krause, há minerais que fortalecem a posição da América Latina no setor, além do lítio. É o caso do cobre, em que os três países produtores do continente (Chile, Peru e México) são responsáveis por 38% da produção mundial. No Chile, a produção caiu em 2022-23, por questões operacionais, como declínio do “grade” mineral e problemas no fornecimento de água. Houve leve melhora marginal em 2024, mas existe a necessidade de investimentos nos próximos anos para contrabalançar o envelhecimento das minas.

O desempenho foi melhor no Peru em 2023 apesar do ambiente político, mas este ano está em leve queda. Os peruanos têm perspectivas otimistas para os próximos anos com baixos custos operacionais e expressivo pipeline de projetos, enquanto no México a produção despencou 40% no primeiro semestre em meio às incertezas regulatórias.

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