Os impactos do conflito na Ucrânia, e sua escalada mundial, a persistência da inflação global, agravada pelo rompimento de cadeias de suprimento, e as questões domésticas da política monetária, agora decisivamente influenciadas pelas estimativas de inflação, câmbio, e taxas de juros, foram abordados como desafios adicionais na condução das políticas fiscal e monetária das economias desenvolvidas e emergentes. As incertezas geradas pelos cenários externo e interno foram tratadas na recente reunião mensal do Comitê de Estudos de Mercado (CEM), da Confederação Nacional das Seguradoras- CNseg.
A duração do conflito será determinante para agravar ou atenuar os problemas macroeconômicos dos países, concordam os economistas Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio e consultor da CNseg, e Pedro Simões, da CNseg. “Quanto mais longa a guerra, pior seus impactos na geopolítica e para as questões humanitárias (refugiados)”, lembrou Luiz Roberto.
O economista da PUC-Rio avaliou que, no Brasil, a taxa básica na casa de dois dígitos já é significativa e deve, daqui em diante, avançar em ritmo menos acentuado do que nas economias centrais, onde o ajuste começou mais tarde. Em países desenvolvidos, avaliou Cunha, os ajustes dos juros básicos podem ser acelerados, já que a inflação, como ocorre nos Estados Unidos, bate índices inéditos atualmente, a mais alta desde 1982.
Conforme debates no CEM, as sanções impostas à Rússia já podem colocar o país em recessão e se tornar ainda mais severas, se a área de energia for mais atingida. Nesse caso, a asfixia econômica alcançaria não apenas a Rússia, mas grande parte das economias centrais e periféricas, considerando os preços do petróleo e do gás.
Para Luiz Roberto, a guerra, que afeta duramente a infraestrutura da Ucrânia, e, via sanções, também poderá afetar as vendas de petróleo da Rússia, fertilizantes e trigo, encarecendo as cotações mundiais, pode colocar “mais lenha na fogueira” da inflação mundial. No mercado financeiro, informou, as perdas de bancos e investidores de economias centrais com as sanções impostas à Rússia podem representar cerca de US$ 100 bilhões.
Outro tema tratou das projeções de crescimento do setor segurador e as variáveis consideradas em seu cálculo. Segundo as mais recentes estimativas, em 2022, o setor segurador poderá crescer de 3,9% (sem Saúde e DPVAT, em cenário pessimista) a 10,3% no quadro otimista (igualmente).
Uma novidade foi, a pedido do presidente da CNseg, Marcio Coriolano, um primeiro cenário retrospectivo, desenvolvido pela SUESP com Sandro Leal, da FenaSaúde, da evolução de prêmios e custos médios da saúde privada. Conforme Marcio Coriolano, um resultado “desfazedor de mitos”, porque mostra evolução real (descontada a inflação pelo IPCA) moderada de ambos nos últimos anos. Ao contrário do que vem sendo noticiado. O resultado será aprimorado, segregando-os por ramos da saúde privada; contratos coletivos e individuais, e por tipo de operadora.