Confira a visão de José Prado e Gustavo Doria sobre as insurtechs e o que elas têm trazido em termos de inovação em seguros
Carol Rodrigues
Gustavo Doria, fundador do CQCS é responsável por um dos mais relevante eventos de inovação de seguros da América Latina, o CQCS Insurtech & Innovation. Ele atua no mercado de seguros há 36 anos e é um entusiasta da inconformidade. “As insurtechs são agentes de inconformidades e têm o meu apoio. Onde houver a possibilidade de transformação e de construção de um amanhã mais seguro e uma sociedade melhor protegida, eu apoio. O mundo está mudando constantemente. Você não pode querer proteger o segurado de 2022 com um modelo de 1986, quando cheguei aqui”.
José Prado é CEO do Insurtech Brasil e vice-presidente da Associação Brasileira de Insurtech. Ele foi o responsável pelo primeiro mapa de fintechs do Brasil e, por enxergar que insurtech era algo promissor, resolveu focar neste setor e criou há seis anos criou o Insurtech Brasil, com a finalidade de ser um conector do ecossistema, ou seja, conectar as pessoas e trazer conhecimento sobre o tema no País. “Acredito no êxito das insurtechs porque elas usam novas tecnologias para alavancar a experiência do usuário”.
Eles podem ser considerados dois titãs do movimento das insurtechs. Com pensamentos antagônicos, mas complementares, ambos acreditam nas vantagens e nos benefícios trazidos pela inovação.
“Vivemos o momento mais interessante e fascinante da história do seguro no Brasil. Estamos em um momento de exploração, em que as pessoas estão testando novas coisas. Claro que muitas delas não vão pra frente, mas deixarão provocações. Inovem e aproveitem esse momento”, destaca Prado.
“Inovem, tenham ideias, tentem. É tentativa e erro. Não fiquem com medo e não se prendam na rotina. Vamos tentar fazer diferente”, conclama o fundador do CQCS.
Confira a seguir as entrevistas de Doria e Prado para a Revista Cobertura, em que ambos discorreram sobre suas visões.
Revista Cobertura | Insurtech com ou sem corretor de seguros? Por quê?
Gustavo Doria | Nem com, nem sem. Insurtech é para o corretor de seguros. A distribuição sem o corretor de seguros é muito cara. Basta ver o que as plataformas digitais como Google, Face e Insta cobram antes de fechar o negócio. Quando a lead é boa, eles cobram mais caro; quando a lead não é tão boa, eles cobram mais barato. Já o corretor só é remunerado quando fecha o negócio.
RC | O que você destaca no processo de instalação das insurtechs no Brasil quando comparado ao processo em outros mercados?
GD | As insurtechs brasileiras têm a vantagem de estarem em um mercado que têm uma super vantagem estratégica por conhecerem o Brasil. Hoje tem um fluxo enorme de insurtechs vindo para o Brasil, tais como marcas globais como Shift e a própria Solera. Temos no Brasil a Cilia que domina o mercado e a Solera, mesmo sendo maior e mais rica, vai ter que investir muito para recuperar um pedaço do mercado. A maior vantagem das insurtechs brasileiras é serem brasileiras.
RC | Em que estágio está o mercado brasileiro?
GD | O estágio é muito parecido. A inovação é um movimento global. O mercado de seguros é maduro e o mercado brasileiro é muito maduro. É um destaque global. Um mercado de consumo que já representa mais de 40% da América Latina e tem muito para se vender. Temos uma nova geração chegando: Justos, Darwin, Azos, Ávila.
RC | Qual é o maior ganho que as insurtechs têm trazido ao mercado segurador brasileiro?
GD | Incômodo. A função das insurtechs não é aprimorar o serviço final, mas sim sacudir os incumbentes. Não tem zona de conforto. Vivemos um momento interessante em que os incumbentes estão inovando mais do que os insurgentes. Os incumbentes vão ter que abraçar a mentalidade de insurtechs.
RC | A médio prazo, qual é a expectativa da atuação das insurtechs no Brasil?
GD | Não tenho muito certeza da perpetuidade das insurtechs, isso globalmente. Não sei se Insurtech vai ser uma era, se será uma fase, um nicho de negócio…Na minha opinião, pela natureza do meu trabalho, tenho que estar com a cabeça muito aberta para não determinar esses futuros. Mas não vejo garantia de perpetuidade da insurtech. E não estou dizendo que ela não possa se perpetuar. Não podemos é dissociar o Brasil do movimento de inovação global. Não estamos aquém, nem além de ninguém. Temos projetos lindos aqui. Acho que vamos ter que começar a dividir as insurtechs e teremos corretores que vão começar a nichar em produtos digitais.
Revista Cobertura | Insurtech com ou sem corretor de seguros? Por quê?
José Prado | Agora, mais do que nunca, insurtechs com os corretores. Todas as insurtechs, que estão em ramos em que o corretor tem uma conversão boa, já estão olhando o corretor. Podemos ver isso nas insurtechs de Auto do Sandbox, pois todas começaram programas de aproximação com o corretor de seguros. O corretor sempre foi importante. Vale mencionar que há insurtechs que são focadas em melhorar a vida do corretor.
RC | O que você destaca no processo de instalação das insurtechs no Brasil quando comparado ao processo em outros mercados?
JP | O setor financeiro brasileiro é líder no mundo em tecnologia e inovação. Não é diferente quando falamos de mercado segurador. Na questão das insurtechs, temos que valorizar a atuação do órgão regulador. Nos últimos anos, o regulador acelerou muito a inovação no Brasil, fazendo com que hoje tenhamos um dos mercados mais quentes de insurtechs do mundo. O regulador facilitou essa inovação com programas como Sandbox e Open Insurance, entre outras iniciativas digitais. Mais de dez novas regulamentações facilitaram os negócios digitais nos últimos quatro anos. Elas facilitaram não só a inovação e a tecnologia, mas também a entrada de novos players no mercado.
RC | Em que estágio está o mercado brasileiro?
JP | Tivemos dois programas de Sandbox. Um que aumentou o número de 220 seguradoras que o Brasil tinha em 2020. Se somarmos as 31 do sandbox, vemos que as novas insurtechs representam quase 20% das seguradoras brasileiras em número hoje. Melhoramos muito nas seguradoras digitais e nas ofertas de seguros para os clientes, mas ainda temos um caminho a trilhar em soluções de tecnologia para otimizar processos dentro das seguradoras, como por exemplo, processos de sinistros e atuária. Também acredito que ainda cabe mais soluções focadas no corretor de seguros. Ainda somos carentes nesse aspecto. Há poucos agregadores de BI de informação para o corretor.
RC | Qual é o maior ganho que as insurtechs têm trazido ao mercado segurador brasileiro?
JP | Eficiência operacional e maior inclusão de brasileiros no mercado de seguros. Para se ter uma ideia, das insurtechs que estão no sandbox, a média de novos clientes que nunca tiveram seguros está na casa dos 70%. Além disso, está subindo a barra de atendimento ao consumidor. Tínhamos uma avaliação de NPS muito baixa no mercado segurador, assim como tínhamos em bancos e operadoras de saúde. As insurtechs conseguem gerar uma satisfação e um apego à marca muito maior.
JP | A médio prazo, qual é a expectativa da atuação das insurtechs no Brasil?
RC | O impacto das evoluções tecnológicas será sentido em cinco anos. As bases estão construídas e estão abrindo caminho para muitas mudanças no mercado. A médio prazo, as insurtechs vão forçar a competição e a modernização dos agentes do mercado.
Conteúdo da edição de setembro (246) da Revista Cobertura