Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros reúne academia, empresas do setor e órgãos reguladores para discutir como o mercado pode avançar, além de propor políticas públicas baseadas em fatos e evidências
Carol Rodrigues
As atividades do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros (IISR) da Fundação Getulio Vargas (FGV) foram iniciadas no início de 2021 e consistem em um ação conjunta da FGV com vários agentes de mercado e reguladores como a Susep e Banco Central.
“O setor de seguros no Brasil tem um desenvolvimento muito abaixo do seu potencial. É um setor muito pouco desenvolvido em relação a outros países. Apenas uma pequena parte da nossa frota de carros é coberta. Seguros em outras modalidades também são pouco utilizados. É um mercado que apresenta grande potencial de crescimento. Em algumas áreas, esse crescimento é fundamental para o desenvolvimento do País”, destaca Goret de Paulo, membro do Conselho Consultivo do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros (IISR) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Como exemplo, Goret cita o seguro Garantia que, hoje, é capaz de destravar o financiamento e, com isso, desenrolar uma série de obras de infraestrutura necessárias para o desenvolvimento do País.
Segundo ela, a iniciativa do Instituto foi feita nos moldes das recomendações de como funcionam na União Europeia o relacionamento entre academia (pesquisadores) e os formuladores de política econômica. “A academia funciona como provedora de informações e subsídios para a formulação de políticas públicas, que seguem as evidências e a necessidade da sociedade, e não somente o desejo político. Esse é um modelo de ponta utilizado na Europa e nos EUA para a formulação de políticas públicas”.
Soluções conjuntas
O IISR mantém uma atuação independente. No entanto, as soluções para os problemas são pensadas e feitas em conjunto com os agentes de mercado e os reguladores.
“Temos um relatório sobre políticas públicas na área de seguros que compara o Brasil a outros países no mundo. Esse relatório cobre seguro Garantia, seguro Rural e diversos tópicos com recomendações onde o Brasil poderia avançar na indústria de seguros”, exemplifica Goret, que também cita outro relatório sobre governança regulatória na área de seguros, em que são abordados tópicos de como a regulação no Brasil poderia ser melhorada para facilitar o crescimento da indústria.
Todo o trabalho tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento da indústria, para a melhoria da regulação e crescimento da indústria no PIB. “A nível mundial, a indústria de seguros contribui em média com 5% do PIB dos países desenvolvidos. No Brasil é menor do que 2%. Queremos contribuir para que a indústria de seguros, efetivamente, seja importante para o crescimento do PIB do Brasil, que essa indústria se desenvolva e alcance seu potencial de crescimento, que ainda é muito pouco explorado”.
Para ela, a inovação no setor de seguros ainda está em estágio incipiente. “A iniciativa de open insurance deveria seguir em conjunto com o open banking, mas se encontra muito pouco desenvolvida. Precisamos investir mais na geração de conhecimento para facilitar o crescimento da indústria”.
O Instituto faz parte do Prêmio de Pesquisa em Seguros organizado pela Susep. Deve promover seminários trimestrais, além do lançamento de notas técnicas mensais sobre temas relevantes para a indústria de seguros e reuniões com agentes de mercado.
Pesquisas apontam caminhos
Os estudos concluídos em 2022 apontaram quatro áreas como prioritárias: infraestrutura, saúde, rural e mudanças climáticas. “Temos um plano anual de trabalho, que envolve relatórios periódicos de pesquisa. Os participantes do Instituto discutem e elaboram teses. A ideia é ter espaços efervescentes para discussão do tema seguro e resseguro e a inovação nesses mercados”, explica Gesner Oliveira, coordenador de pesquisa do IISR.
Infraestrutura
A infraestrutura e os vários mecanismos através dos quais é possível impulsionar o investimento em infraestrutura foram analisados pelo Instituto. “O seguro faz parte de um conjunto de medidas que podem melhorar o investimento em infraestrutura. Por exemplo, o seguro Garantia e a participação das seguradoras no financiamento, na gestão dos projetos de infraestrutura é muito importante. Isso faz com que as obras não atrasem e com que não se tenha corrupção. É muito importante trazer o seguro como umas das ferramentas importantes para o financiamento da infraestrutura”, explana Oliveira.
Rural
É notório que o seguro rural é fundamental para o Brasil. O grupo fez um estudo econométrico, mostrando a relação entre seguro e produtividade. “O seguro aumenta a produtividade do agro. Quando o produtor não tem seguro, ele faz seguro com a área plantada. Ele planta mais do que necessário em função de uma eventual ocorrência. Quando o produtor tem o seguro ele pode focar na melhoria da produtividade”.
Oliveira também lembra os seguros paramétricos, que são uma opção para o produtor.
Segundo ele, há espaço para inovação no campo do seguro rural, além de muita concentração, sobretudo no sul e no sudeste, e na produção de soja e milho. “O seguro rural é muito importante. Ao estimular o seguro rural, o governo tem a opção de não dar crédito diretamente e pode dar um instrumento mais eficiente e interessante para o produtor”.
Saúde
O seguro saúde é outro mundo, que tem um arcabouço regulatório distinto, pois há a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que trata das operadoras de saúde, e a Susep, que é o órgão regulador de seguro. “Observamos que o excesso de intervenção no preço e na tabela de procedimentos nos planos individuais tem feito desaparecer esse tipo de plano. A inflação médica é superior à média da inflação e os reajustes da ANS historicamente ficaram inferiores à inflação médica e superiores à inflação. Os planos individuais vão desaparecendo do mercado. Isso é ruim porque desprotege as pessoas”, comenta.
Mudança climática
“Com a mudança climática, temos extremos climáticos mais frequentes, o que coloca em risco várias estruturas. A Antaq – Agência Nacional de Transportes Aquaviários – e uma entidade alemã fizerm um estudo sobre seguro nos portos brasileiros e constatou que não há seguro associado aos extremos climáticos, como vendaval e elevação do nível do mar. Isso é uma medida de adaptação que precisamos porque os extremos climáticos estão cada vez mais frequentes”, exemplificou o coordenador sobre os efeitos das mudanças climáticas.
Conteúdo da edição de novembro (248) da Revista Cobertura