Atração de mais jovens talentos também está atrelada à imagem de modernização de todo o setor de seguros; em 2024 houve aumento de aproximadamente 32,9% de novos cadastros de corretores no Brasil
Carol Rodrigues
A Escola de Negócios e Seguros (ENS) tem mais de 53 anos de atuação na formação e capacitação dos profissionais de seguros e é um dos termômetros da procura de profissionais pelo setor. Atualmente, a maioria dos alunos da Escola é, majoritariamente, oriunda do setor de seguros. Entretanto, conforme a diretora de Ensino, Maria Helena Monteiro, todo ano a Escola identifica centenas de pessoas que buscam, especialmente os Cursos e Exames para Habilitação de Corretores de Seguros.
“Há ainda uma quantidade expressiva de profissionais que ingressam em nossos programas educacionais para se familiarizarem ou se aprofundarem em temas específicos do seguro, pois atuam em segmentos que tangenciam a nossa atividade. Podemos citar como exemplo as empresas de óleo & gás e, também, do setor de energia, que lidam com grandes riscos e, por isso, são contratantes de seguros vultosos. Normalmente, essas companhias têm estruturas internas para lidar com essas coberturas e os profissionais que nelas atuam necessitam estar permanentemente capacitados”, exemplifica.
De certa forma, hoje o mercado segurador já chama mais a atenção de profissionais. Na visão de Sara Santos, gerente da Robert Half, o dinamismo do mercado segurador é um ponto de destaque. “O segmento securitário era visto como um mercado extremamente tradicional. Atualmente, observamos um movimento intenso de transformação por parte das seguradoras, o que cria oportunidades para a personalização de novos produtos e serviços, muito mais alinhados às expectativas dos consumidores brasileiros e que, efetivamente, geram impacto na vida das pessoas”, explica Santos.
No entanto, segundo a Robert Half, as empresas ainda se deparam com dificuldades para atrair talentos, visto que o número de profissionais qualificados não supre a demanda e as taxas de desemprego continuam em queda. “O índice de desocupação para esta categoria, a partir dos 25 anos e com ensino superior completo, gira em torno de 3,5%, um patamar que o mercado considera próximo do ‘pleno emprego’”.
“Sabemos que a indústria de seguros nacional vem apresentando, nos últimos anos, crescimento regular na casa dos dois dígitos. E isso mesmo diante de eventos adversos, como a pandemia da Covid-19, crises internacionais, guerras e grandes catástrofes naturais, que impactaram negativamente outros mercados. Esses elevados índices de crescimento são, por si só, um grande atrativo para quem deseja se tornar um profissional de seguros”, cita Maria Helena.
Ela ainda destaca a modernização do setor nos últimos anos e o fato de o atual ecossistema do seguro contemplar uma grande diversidade de empresas e entidades, o que amplia significativamente as oportunidades de empregabilidade.
“Outros movimentos, como as iniciativas empreendidas pelo órgão regulador no sentido de democratizar o acesso ao seguro e o Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros, que estipula em 10% a participação do setor no PIB até 2030, também sinalizam um cenário altamente promissor para aqueles que almejam construir uma carreira exitosa em seguros”.
“A indústria nacional de seguros experimenta um novo momento. A forma das pessoas se relacionarem mudou, bem como a forma e o padrão de consumo. Essas mudanças também atingiram o mercado de seguros, tanto para novos consumidores como para novos profissionais. Um mercado com possibilidade de ganhos exponenciais, múltiplas habilidades e vasto conhecimento são fatores que deveriam atrair mais jovens, entretanto, precisamos repensar nossa linguagem, forma de se relacionar e comercializar nossos produtos e serviços para atrair os jovens consumidores e profissionais”, destaca Tiago Sarturi, presidente do Sincor-RO/AC.
Sarturi iniciou na corretagem aos 17 anos e se tornou o presidente mais jovem da história dos sindicatos de corretores e todo o Brasil. Hoje ele tem 34 anos.
“Acredito no associativismo, na união, no coletivo. Tanto na política institucional como na política partidária. Somente com a união de diversas forças e de mentes ávidas podemos evoluir como categoria profissional e sociedade. Sempre fui um incentivador das lutas empresariais, institucionais e políticas. Prefiro ser um protagonista na construção do futuro que desejo, contribuindo e participando ativamente. Também vejo a necessidade de continuidade e renovação nas esferas políticas e institucionais. Precisamos atrair mais jovens interessados nas pautas coletivas”.
Mais corretores
Há, inclusive, regiões do País com escassez de corretores. “De acordo com os dados mais recentes da Susep, nossa região conta com aproximadamente 1.039 corretores de seguros ativos. Este número inclui tanto pessoas físicas quanto jurídicas”, diz Erico Parente, presidente do Sincor AM/RR.
Parente acredita que há uma disparidade entre o número de corretores e o potencial de pessoas a serem protegidas na região. “Considerando a vasta extensão territorial e a diversidade econômica do Amazonas e Roraima, há um amplo espaço para crescimento e penetração do mercado de seguros”.
“O rejuvenescimento da classe corretora é uma tendência positiva e necessária. Observamos um aumento gradual de jovens profissionais ingressando no mercado, trazendo consigo novas perspectivas, habilidades tecnológicas e uma abordagem inovadora para o setor. Este influxo de novos talentos é vital para a modernização e sustentabilidade da profissão”.
Ele lembra que na consulta estatística de novos cadastros de corretores da Susep há no registro geral um aumento de 32,9% de novos cadastros em todo País.
Carlos Valle, presidente do Sincor-PE e VP de Comunicação da Fenacor, faz uma analogia da entrada de novos profissionais no mercado com as atualizações que as próprias tecnologias passam. “Os mais jovens, que começam cedo têm muito mais oportunidade de crescimento, até novas práticas e novos seguros, antigamente a gente só falava em dois, três tipos de seguro, e pouco se falava disso”.
Para atrair mais profissionais, Parente diz que é necessário promover a estabilidade financeira e as oportunidades de crescimento na carreira; investir em programas de mentoria e treinamento; destacar o papel social do corretor na proteção financeira das pessoas; enfatizar as oportunidades de empreendedorismo e flexibilidade na profissão e modernizar a imagem do setor, mostrando sua relevância na era digital.
Como o mercado deve se apresentar
O mercado de seguros tem o desafio de trazer novos profissionais para o setor e, segundo Lucas Vergilio, presidente da ENS, a Escola pode contribuir por meio do sistema de ensino online, que é muito avançado e moderno. “Temos alcance em todos os estados. Temos como polos de ensino os sindicatos em cada estado. Isso faz com que nós tenhamos essa presença massiva em cada estado. Como a população é muito maior nas regiões sudeste e sul, no seguro também acompanha. A escola vem fomentando muito. Recentemente fizemos um evento muito interessante no Ceará, outro em Rondônia, justamente para poder interiorizar a presença do corretor de seguros”.
Para quem não é do mercado de seguros, a ENS é a principal porta de entrada, pois possui cursos de graduação em Gestão de Seguros. “A maioria dos alunos são jovens que nunca tiveram experiência no mercado de seguros e que enxergam, pelos números do mercado, uma grande oportunidade de iniciar a carreira. Hoje temos mais de 800 alunos nesse curso”.
Valle lembra que falta conhecimento da população, não somente dos jovens, que existe a atividade seguradora. “A maioria dos jovens hoje, quando a gente fala em testes profissionais, falam de profissões já consolidadas, engenharia, medicina, direito, administração e arquitetura. Falta divulgação para que os jovens conheçam que esta atividade é excelente. Acho que nos testes vocacionais, nas escolas e em qualquer ambiente onde existam jovem, deve ser levado o conhecimento do mercado de seguros para que ele enxergue também as possibilidades e até a sua identificação com isso”.
Sarturi aponta que o que falta para o mercado ser o sonho de trabalho de profissionais ainda em fase estudantil é despertar o interesse das novas gerações de forma clara, simplificada, moderna e digital. “Demonstrando a importância da profissão do ponto de vista patrimonial, familiar e social na proteção à vida, aos negócios e à sociedade. Com propósitos definidos, linguagem simples, digitalização das operações e ganhos em escala, atrelados a evolução profissional, sem dúvidas, atrairão novos profissionais ainda em formação estudantil”, opina.
Nesse sentido, Parente recomenda aumentar a visibilidade da profissão em universidades e escolas técnicas e criar programas de estágio e trainee mais robustos nas corretoras de seguros. “Além disso, desenvolver parcerias entre seguradoras, corretoras e instituições de ensino, mostrar casos de sucesso de jovens corretores, enfatizar as oportunidades de inovação e empreendedorismo no setor, e promover a importância social e econômica dos seguros na sociedade moderna”.
Metade dos alunos procura formação de corretor
Em 2024, até o momento, a ENS contou com mais de 8,5 mil alunos matriculados nos mais diversos cursos oferecidos. Deste total, mais da metade buscou formação como corretor de seguros ou algum tipo de capacitação dentro da atividade da intermediação de seguros. Os demais alunos são profissionais que atuam em seguradoras, prestadoras de serviços, entidades do setor, insurtechs, entre outros players.
“Nos últimos cinco anos (2019 a 2023), formamos mais de 26.600 novos corretores de seguros, o que dá uma média de mais de 5.300 por ano”, destaca Maria Helena Monteiro.
Conteúdo da edição de dezembro (271) da Revista Cobertura