“Nossa fragilidade ficou evidente”, diz líder do Sincor-RS

André Thozeski, presidente do Sincor-RS

O Rio Grande do Sul foi surpreendido no início de maio por uma das maiores enchentes da história. Não à toa o evento já é considerado o maior sinistro da história do mercado de seguros no Brasil.

De forma rápida, as lideranças do mercado de seguros local criaram um gabinete de emergência para monitorar a situação e entender a melhor forma de ajudar. Foi nesse sentido que rapidamente uma chave Pix para criação de fundo para auxílio foi disponibilizada pelo Sindicato das Seguradoras da região, o SindSeg-RS.

A ocorrência, que já soma mais de R$ 1,6 bilhão de indenizações a serem pagas, relativas a 23.441 avisos de sinistros registrados até 23 de maio, conforme dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), traz reflexões para a sociedade e também para o mercado de seguros.

André Thozeski, presidente do Sincor-RS, em entrevista exclusiva para a Revista Cobertura informou um retrato da situação no Rio Grande do Sul. “Não se tem nada parecido em lugar nenhum! Que isso possa alertar o nosso mercado de seguros para a necessidade de disponibilizar as coberturas adequadas. Precisamos disponibilizar Alagamento, Enchente, Inundação, Desmoronamento e outras na Cobertura Básica para termos pulverização do risco em todo o País”. A verdade é que nada será como antes.

Carol Rodrigues

Revista Cobertura | A região em que fica a sede do sindicato FOI alagada?
André Thozeski | Sim, todo o bairro foi alagado, no hall do prédio 1,8 metros de água. Mesmo com a baixa do nível das águas no bairro seguimos sem energia elétrica, sem abastecimento de água potável e sem internet. O Sincor segue fechado e nossos colaboradores bravamente atendendo de casa.

RC | Quais medidas o sindicato tomou?
AT | Atuamos em três frentes: 1 – Atendendo aos Corretores e Securitários atingidos. 2 – Atendendo aos clientes segurados, entregando o melhor atendimento e atenção. 3 – Amparando e ajudando a toda a comunidade. Na primeira fase, todos se focaram em socorrer, em amparar. Criamos um Comitê de Emergência unindo todas as entidades do setor de seguros do estado, passamos a centralizar as demandas dos corretores e securitários afetados, criamos uma chave PIX única em uma conta do SindSeg-RS para centralizar as doações, por meio da qual várias entidades e profissionais do nosso setor, de todo o país, doaram. Disponibilizamos atendimento psicológico e ajuda para os primeiros passos pós tragédia, como a limpeza e reorganização das residências e empresas.

RC | De forma geral, como estão as atividadeS na região?
AT | Nossa fragilidade ficou evidente. Foram atingidos 470 municípios. Morreram 170 pessoas (ainda há mais de 40 desaparecidos). Mais de 600 mil pessoas foram retiradas de suas casas e instaladas em abrigos e em residências de amigos e familiares. 90% da indústria gaúcha está paralisada! O comércio (de bens, de serviços, de turismo) foi duramente atingido. A infraestrutura do estado foi comprometida. Como diria aquele tio “nunca antes na história deste país” um estado foi afetado nesta ordem! Não se tem nada parecido em lugar nenhum!

RC | A CNseg tem buscado parcerias de órgãos públicos e organizações privadas para criar produtos inovadores capazes de ajudar no enfrentamento das tragédias provocadas pelas mudanças climáticas.  Como vê a criação de um Seguro Social de Catástrofe?
AT | É uma espécie de “DPVAT residencial”. É mais uma tentativa de resposta humanitária do que um seguro efetivamente. Não é cobrando R$ 5 por mês compulsoriamente de toda a nação (R$ 60 ao ano, casualmente muito parecido com o custo do “novo DPVAT”) e entregando R$ 15 mil (igual a todos, independente do prejuízo sofrido) que vamos efetivamente atender às necessidades dos consumidores de proteção efetiva, que é a missão do seguro privado. Os clientes que, conscientes da importância do seguro, compram seguro residencial e empresarial, não têm oferta de proteção real. Não se vê uma única seguradora disponibilizando coberturas de desmoronamento, alagamento, enchente, inundação em valores que efetivamente protejam. Não adianta nada os R$ 15 mil (nem os R$ 50 mil) para uma residência ou empresa, disponibilizados por três seguradoras, isso mal paga a limpeza.

RC | Considera que a situação de calamidade no Rio Grande do Sul deve acelerar uma resposta sobre o seguro social?
AT | Sim, será mais uma operação social, sem a participação do corretor de seguros. Assim como os corretores foram excluídos do “Acidentes do Trabalho” e depois do DPVAT, agora são novamente. Não adianta nada o Mercado de Seguros Privado se voltar para “amparo social”. Esta é uma função do Estado. Aliás, o Estado já está entregando um pacote de amparo indistintamente a todos os afetados. Sejam os R$ 5.100 do Federal, sejam os R$ 2 mil acenados pelo Estadual, eles são apenas uma espécie de “ajuda humanitária”, não vão bancar a necessária reconstrução das casas, não vão repor as mobílias perdidas! E não é uma “bondade” de R$ 15 mil proposta como “seguro social” que vai resolver. O que as pessoas e as empresas precisam é de seguro de verdade, contratado para a totalidade dos seus riscos, amparados pela assessoria de um profissional Corretor de Seguros!

RC | O que a tragédia no Rio Grande do Sul pode trazer de ensinamento a todos?
AT | Que possa alertar o nosso mercado de seguros para a necessidade de disponibilizar as coberturas adequadas. Precisamos disponibilizar Alagamento, Enchente, Inundação, Desmoronamento e outras na Cobertura Básica, para termos pulverização do risco em todo o País. De nada adianta as três (sim, são três as seguradoras que disponibilizam contratação de cláusula opcional com R$ 15 mil, R$ 30 mil, quiçá R$ 50 mil para isso)! Além de o valor mal servir para limpar uma casa ou empresa, a disponibilidade como “opcional” leva à contratação exclusivamente por quem está em área de risco. Ora, isso inviabiliza que se tenha a massa necessária para pulverizar o risco, explode a sinistralidade e, ato contínuo, certamente vão deixar de disponibilizar! Somente quando incluída na Cobertura Básica (sim, as taxas vão aumentar, e é justo!) e todos pagarem um pouquinho para que todos estejam protegidos é que se terá, efetivamente, o seguro cumprindo sua função social.

470 municípios atingidos
170 mortos
40 pessoas desaparecidas
Mais de 600 mil pessoas foram retiradas de suas casas e instaladas em abrigos e em residências de amigos e familiares
90% da indústria gaúcha está paralisada

Mais de R$ 1,6 bilhão em indenizações*
23.441 avisos de sinistros
11.396 oriundos do Residencial e do Habitacional
8.216 do Automóvel
993 Agrícola
386 de Grandes Riscos (Riscos Nomeados e Operacionais)
2.450 avisos estão relacionados a outros ramos

Fonte: Levantamento realizado pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) com dados contabilizados até 23 de maio

Conteúdo da edição de maio (264) da Revista Cobertura

Revista Cobertura desde 1991 levando informação aos profissionais do mercado de seguros.

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