23° Congresso Brasileiro de Corretores de Seguros tem tom político na abertura e mensagem para todos se dedicarem ao crescimento do mercado
Armando Vergilio, presidente da Fenacor, conseguiu um grande feito para um evento de corretores, ousaria dizer até de todo o mercado de seguros. Ele reuniu os governadores Ronaldo Caiado (Goiás) e Cláudio Castro (Rio de Janeiro), os deputados federais (Soraya Santos e Hugo Leal), o senador Flavio Bolsonaro e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Aliás, foi a primeira vez que o mercado contou com a presença de um ministro da Fazenda.
A princípio, Fernando Haddad foi vaiado, mas Armando Vergilio ressignificou a vaia mostrando o feito de ter um ministro prestigiando um evento do setor, deixando claro que, independente da bandeira política e ideologia, o que é importa é todos estarem caminhando no mesmo sentido e em prol do mercado de seguros.
“Há muito eu não via um Ministro da Fazenda tão interessado verdadeiramente por solucionar os problemas do setor e fazê-lo crescer. Por isso, queria que ouvíssemos o ministro com muito respeito”, destacou Vergilio, que também é Secretário de Relações Institucionais pelo estado de Goiás.
Haddad aproveitou para falar de sua contribuição para o mercado com a criação da tabela FIPE, que indica os preços médios de veículos novos e usados, utilizados como referência para cálculo de seguros e o benefício trazido para o seguro de automóvel.
Ainda durante o evento, o Ministro anunciou boas novas para o mercado de seguros. “Temos muito a fazer e a crescer, independentemente de religião, time de futebol e partido político, temos que ter algo mais importante do que as nossas divergências, que é a reconstrução do Brasil. Podemos fazer muito por esse País. Se nós adotarmos o diálogo como premissa e tivermos abertura para sentar à mesa e negociarmos os textos de lei, podemos aprimorar a legislação no sentido de permitir que o seguro se desenvolva no Brasil”, destacou Fernando Haddad, que se despediu sob aplausos.
Essa foi a tônica da abertura do 23° Congresso Brasileiro de Corretores de Seguros, realizado em outubro na Expo MAG, no Rio de Janeiro, e reuniu profissionais para discutir
“O futuro da distribuição dos seguros no Brasil”.
Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), destacou a mudança da percepção do governo brasileiro sobre a indústria e a sua relevância. “Estamos muito animados com as transformações que o mercado vem passando. Cada vez fica mais evidente o papel do corretor dentro da indústria de seguros. Os corretores brasileiros são os que prestam o melhor serviço no mundo. É um trabalho muito particular no caso do Brasil”.
Paulo Rebello Filho, diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), apontou a importância de os corretores transmitirem todas as informações para deixar o consumidor mais empoderado com as suas escolhas. “O diálogo e eventos como esses são importantes para que possamos construir pontes”.
Auto tem oportunidades
“O auto faz parte de quase 100% das corretoras de seguros do Brasil. Mas é um mercado que insiste em ficar em menos de 30% da frota segurada. Precisamos avançar e virar esse jogo”.
O preâmbulo de Ricardo Garrido, presidente do Sincor-RJ, sinalizou o desafio do seguro de automóvel no Brasil.
Além do percentual de penetração, o ramo ainda tem outro ponto que é a concentração de seguradoras. “O mercado tem se concentrado e há um movimento de consolidação. 90% do seguro auto está concentrado em seis seguradoras. Há dez anos eram 16 seguradoras”, comparou Marcelo Goldman, diretor-executivo de Produtos Massificados da Tokio Marine.
Ele destacou que a oferta de produtos de seguro continua muito grande – do seguro mais simples ao mais completo -, além de ter novos entrantes e seguradoras de menor porte no mercado.
Sobre a tecnologia embarcada nos veículos, Rafael Ramalho, VP de Automóvel da HDI, citou algumas tendências que podem chegar ao Brasil. “Observamos a redução de frequência de sinistros porque o carro ajuda a frear nas ações de emergência. Com isso, temos menos pessoas se machucando. Mas, por outro lado, a severidade tende a aumentar, pois os carros estão cada vez mais complexos em termos de reparação”, diz ao destacar o preço das peças que é desproporcionalmente alto.
Ney Dias, presidente da Bradesco Auto/RE, destacou as mudanças da demográfica brasileira e o comportamento social. “O aumento do custo do veículo e da manutenção impactam o perfil da carteira de automóvel. Observamos um aumento grande de pessoas na faixa dos 30 anos, que é quanto elas decidem casar e a questão da conveniência, privacidade e segurança são importantes”. Portanto, Dias ressalta que há oportunidades de crescimento para o corretor dentro do seguro automóvel.
A respeito dos veículos elétricos e híbridos, cujos emplacamentos cresceram mais de 140% no primeiro semestre de 2024 no Brasil, Patricia Chacon, COO da Porto, comentou que embora as lojas físicas de automóveis tenham crescido para 4,1 mil, há o desafio do desenvolvimento da infraestrutura. “Estamos atentos às questões de tecnologias e consumo. Sabemos que os veículos elétricos têm um ritmo de depreciação diferente”.
Saúde e a consultoria do corretor
Fiz o curso e sou corretor. Isso basta? A resposta é não, principalmente em se tratando de seguro saúde. Esse foi o ponto inicial da discussão do painel “O seguro saúde e o corretor”.
“Saúde é uma commodity, pois os produtos são praticamente iguais. O contrato é uma cópia da lei com as atualizações”, disse Jorge Charles Lopes, corretor de seguros e professor da Escola de Negócios e Seguros (ENS).
“Precisamos descomoditizar esse produto. O produto ficou igual na embalagem. A embalagem consiste em tem cobertura ambulatorial ou hospitalar, é nacional ou estadual, se tem reembolso ou não”, enfatizou Maurício Lopes, CEO da Qualicorp.
Segundo ele, as nuances dos produtos de cada operadora descomoditizam algo que é comoditizado por lei.
“Precisamos levar para o cliente todas as modificações em tempo real. O cliente tem que entender o que é o saúde e é necessário educa-lo para usar o plano. Só vamos conseguir isso se nos prepararmos muito. Ir às operadoras é fundamental para conhecer os produtos. Não posso simplesmente vender o que querem que eu venda”, justificou Charles.
Marcelo Reina, CEO da Brazil Health, acrescentou que além de participar de treinamentos de produtos, é importante o corretor fazer treinamentos relacionados à melhor a entrega do produto. “É importante participar, divulgar e combater fraudes. Levamos consultoria e a consultoria passa por treinamento. Precisamos demonstrar a força da venda qualificada”.
Por isso, segundo Reina, a Brazil Health tem como um dos pilares a formação de corretores, inclusive por meio da Convenção de Vendas, de cursos EAD, do Corretor Expert e de treinamentos.
Segundo o CEO da Qualicorp, o saúde é um produto altamente complexo e só pode ser vendido pelo corretor. “Exalto a importância de nos prepararmos e olharmos para o futuro.
O corretor é vital. Nenhuma operadora avança sem o corretor de seguros. Muitas operadoras não têm noção de quantas NIPs foram evitadas e de quantos atendimentos não reverberam no SAC da operadora por conta do trabalho do corretor”, acrescentou Reina.
Vale lembrar que a venda qualificada do corretor inclui questionar os produtos das operadoras. “O saúde é o que melhor remunera e o que melhor dá perenidade de carteira, e é o ramo em que o corretor tem que ser mais técnico”, completou Reina.
Eixo Rio-São Paulo
O Congresso Brasileiro de Corretores de Seguros será sempre realizado no Rio de Janeiro. Com isso, os dois grandes eventos de corretores de seguros, o outro é o Conec, tradicionalmente realizado em São Paulo, passam a ser realizados no eixo Rio-São Paulo.
Conteúdo da edição de outubro (269) da Revista Cobertura