Open Insurance trará aumento contínuo de dados dos clientes

Novos produtos devem surgir em ramos como Vida, Auto, Previdência e seguros massificados. Impacto em maior escala será nas proteções para pessoas físicas e microempresas, conforme observa o head da FCamara

Carol Rodrigues

A indústria de seguros passou de conservadora para uma cultura digital mais focada na inovação. Cada vez mais o mercado olhará para a redução de custos e a melhora no tempo de resposta para os seus clientes.

É fato que o ecossistema “Open” veio para ficar e vai estimular a concorrência nos produtos financeiros nos próximos anos. “O Brasil foi o pioneiro no mundo em estabelecer uma regulação Open Insurance, visando o que é conhecido lá fora como Open Banking para se tornar Open Finance por aqui”, comenta Lorain Grossi Pazzeto, head Open Finance e Insurance & Digital Solutions da FCamara.

O maior desafio do “Open” é trabalhar melhor a insegurança do consumidor em compartilhar dados financeiros. “A vida inteira como cidadãos bancarizados fomos instruídos a não compartilhar nossos dados com ninguém. Agora, os participantes atuantes e reguladores precisam reverter esse jogo com comunicação e também há o fator do tempo, e à medida que os consumidores forem testando e tendo boas experiências, o Open decolará no nosso País”, chama a atenção.

Para 2023 estão previstas as principais entregas da fase 2 do Open Insurance, além da evolução da Fase 3 e a interoperabilidade com o Open Finance. “Os dados de fase 2 trarão os detalhes de cada cliente mediante seu consentimento e através deles começaremos a ver diversos casos de uso inovadores fazendo com que a informação seja um fator diferencial na composição de propostas mais personalizadas”, diz.

Segundo Pazzeto, 2023 será um ano de construção do ecossistema, por isso ele sugere às empresas apostarem na comunicação com seus clientes para educá-los sobre o que é o ainda bem pouco conhecido Open Insurance e toda a governança que cerca o ecossistema, além de promover o engajamento dos clientes com essas plataformas.

Corretor no Open Insurance

A Superintendência de Seguros Privados (Susep) por meio da resolução 450/2022 fez alterações importantes para o processo de Open Insurance no Brasil. Na visão de Pazzeto, os aprimoramentos tornam o setor de seguros aderente ao processo com o fim das Sociedades Iniciadoras de Serviço de Seguro (SISS), que dentro de suas atividades dava a condição de “representação do cliente”, mas que não incluía o corretor de seguros de forma explícita além de sobrepor suas funções. 

“No seu lugar, agora temos a Sociedade Processadora de Ordem do Cliente (SPOC), que exerce a função de meio de transmissão de ordem dada pelo cliente. Nesse novo cenário, os corretores de seguros poderão se tornar iniciadores na medida que cumprem os requisitos de segurança, capital, entre outros estabelecidos na Resolução CNSP Nº 450”, destaca.

Segundo ele, dentro da ótica do Open Insurance, que é descrito em termos práticos como o meio ao qual através dos dados do segurado o mesmo poderá receber ofertas de produtos de seguros mais alinhadas ao seu perfil, é possível notar uma grande sinergia com o papel do corretor. “Sendo uma SPOC, o corretor que agora passa a ter acesso aos dados consentidos do Open Insurance, poderá tanto aprimorar o atendimento aos seus clientes, como chegar a propostas ainda mais relevantes, uma vez que agora aliarão seu conhecimento profundo dos produtos e, somado a isso, conhecerão também quem é o seu cliente, como ele se comportou na apólice anterior e o que realmente o atenderá melhor agora”.

Outra deliberação foi a inclusão de produtos de grande risco que, inclusive, torna não obrigatória a participação de empresas que operem somente com esse escopo de produtos e também a dilação no prazo regulatório em 90 dias.

Essas importantes alterações contribuem para que o Open Insurance se consolide com o Open Finance, cuja interoperabilidade permitirá a construção de novos serviços e experiências a toda a sociedade.

Benchmarks de produtos

A conclusão da Fase 1 por parte das sociedades de seguro, cuja implementação é a mais simples de ser realizada do Open Insurance, apesar de ser um escopo Open Data abre ao mercado a possibilidade de criar benchmarks de produtos e compará-los com os seus concorrentes ou até mesmo empresas inspiradoras. 

“Na prática, as empresas poderão somar essas informações nos seus exercícios de futurologia, imaginando como o consumidor pode ser impactado e reinventando seus produtos, criando novos diferenciais competitivos, tendo em vista toda a gama de produtos e mercado existente”, destaca o head da FCamara.

Como resultado, ele explica que os players poderão se preparar tanto para e retenção de seus clientes, como para aquisição de novos. 

“Com o acesso ao histórico do segurado, somado ao conhecimento sobre o player concorrente, é possível estabelecer uma comunicação mais efetiva promovendo valor agregado e atrativos para conquistar esse novo cliente, que nem sempre precisa estar ligada somente a melhores condições comerciais e, sim, oferecendo de forma inteligente o que o cliente precisa no momento atual de vida dele, associando uma variedade de serviços complementares que façam sentido e que, de repente, o mesmo não possua na empresa atual”, reflete. 

Serviços mais personalizados

A fase II envolve diretamente os segurados, pois ela permitirá o empoderamento do consumidor através do seu histórico, que passará a receber serviços mais personalizados e com preços compatíveis. 

“Por outro lado, as sociedades seguradoras precisam se preparar, pois uma vez que implementado o escopo regulatório, diferente do Open Finance, no Open Insurance um consentimento por parte de seu cliente segurado pode significar a iminência de um churn. Portanto, se por um lado estratégias de retenção precisam ser estabelecidas para prevenir essas evasões, também é necessário entender como a recepção de dados agregará para provocar desde um primeiro impacto positivo com o segurado através de um onboarding facilitado, como também ampliar a proposta de valor através das informações e histórico obtidos sobre o mesmo”.

Conforme Pazzeto, cerca de 80% dos executivos do mercado de seguros compreendem que há uma janela até 2024 para que o Open Insurance passe, de fato, a impactar a vida dos segurados. “É nesse período de amadurecimento que as empresas do setor, especialmente as seguradoras e corretoras, precisam se preparar”. 

Ele prevê que os produtos que sofrerão maiores impactos serão os de modelos simples de cálculo e venda pouco consultiva, que devem passar por um redesenho otimizando processos com foco no cliente, promovendo, além de uma experiência diferenciada, novos produtos associados que provocam a percepção de valor agregado. “É recomendado, inclusive, que players do mercado que atuam focados nesses produtos – por exemplo, Vida, Auto, Previdência e Massificados como roubo/quebra de celular, garantias de eletroeletrônicos, entre outros – estejam na vanguarda dessa inovação”.

Operação estratégica

Ecossistema de tecnologia e inovação, a FCamara busca potencializar a transformação dos negócios de seus clientes. No Open Insurance, a operação estratégica da empresa está posicionada em quatro pilares.

O primeiro deles é a Preparação, em que apoia com tecnologia e consultoria o redesenho do core da sociedade seguradora visando torná-la eficiente e aderente ao OPIN. Em termos de Conectividade, Modularizado e distribuído em SaaS e On-premise e permite que um participante esteja regulado em curto tempo. Esse acelerador possui todas as APIs especificadas, interfaces whitelabel, Gestão de Consentimento, Sandbox e é homologado em todas as certificações vigentes. Já no Analytics, possui Inteligência de dados para suportar a tomada de decisões baseadas em dados do Open Finance. No Experience, oferece consultoria em Design de Serviços, visando entrevistar e compreender as personas do cliente, bem como qual a melhor forma de abordar Open Insurance e como os seus produtos se transformam nessa inovação.

A atuação no Open Finance teve início quando o Bacen iniciou o projeto de implantação do diretório central do Open Banking Brasil. “No Open Insurance, apoiamos a estrutura inicial desenvolvendo e mantendo os portais do cidadão, participante, dashboard de métricas, e área do desenvolvedor. Entendemos essa atuação como uma fonte única de conhecimento para nos anteciparmos e termos maior qualidade nos serviços com os nossos clientes participantes desse ecossistema”, explica Pazzeto.

Para ele, o mundo nos observa como referência e teremos cada vez mais a agregar sobre esse tema globalmente. “Estamos apenas no início de uma grande revolução no setor”.

Quatro fortes tendências para 2023

• Aumento contínuo de dados de clientes: À medida que os canais digitais continuam a proliferar, o volume de dados de clientes que está sendo gerado está aumentando a uma taxa exponencial. Isso representa um desafio e uma oportunidade para as seguradoras. Por um lado, as seguradoras precisam encontrar maneiras de gerenciar e armazenar com eficácia esse volume de dados cada vez maior. Por outro, as seguradoras que conseguirem alavancar efetivamente esses dados poderão obter uma vantagem competitiva.

• Crescimento do seguro baseado no uso: O seguro baseado em uso (UBI) está se tornando cada vez mais popular como forma de oferecer seguro mais acessível para motoristas com baixa quilometragem. Além disso, o UBI também pode ser usado para incentivar os clientes a mudar seus hábitos de condução, a fim de reduzir o risco de acidentes. Por exemplo, algumas seguradoras oferecem descontos para clientes que usam dispositivos de telemetria para rastrear seus hábitos de direção e provar que são motoristas seguros.

• A mudança na cultura do legado para a inovação: O seguro tem sido tradicionalmente uma indústria muito conservadora. Mas agora está mudando rapidamente com o influxo de sangue novo na forma de seguradoras digitais, gigantes da tecnologia e startups inovadoras. Há uma mudança pronunciada na mentalidade entre os líderes e especialistas em seguros, pois a necessidade de inovar está se tornando aparente para todos os envolvidos. A indústria passou de conservadora para uma cultura digital cada vez mais focada na inovação. As empresas do setor devem investir ainda mais em headless, mantendo seus legados intactos ao mesmo tempo que transformam de modo acelerado as experiências digitais, tanto de seus clientes como de seus funcionários.

• A automação aliada a competitividade: As seguradoras estarão sobre crescente pressão dos clientes para reduzir o preço de seus prêmios e se manterem acessíveis, apesar dos aumentos em todos os outros setores. E como as seguradoras que também enfrentam esses custos crescentes tornam isso viável? Através da automação, otimização de processos, processamento de sinistro, entre outros. O mercado se preocupa cada vez mais em como reduzir custos e também melhorar o tempo de resposta aos seus clientes. 

Cases de implantação

Do ponto de vista de implantação e preparação para o Open Insurance Brasil, a FCamara apresenta como case uma seguradora de nível S2. 

“O OPIN estabelece a participação compulsória de empresas de segmento S1e S2. A seguradora nos abordou com o desejo de cumprir sua jornada regulatória de Fase 1 e 2 de forma antecipada ao calendário do Open Insurance Brasil. Aceleramos através de nossa plataforma SaaS esse projeto e atualmente todos os testes nos motores de segurança (FAPI e DCR) estão validados e aguardando o retorno de certificação junto a OpenID com dois meses de antecedência ao prazo estabelecido”, explica Pazzeto. 

Além disso, toda a camada de Gestão de Consentimento está desenvolvida e preparada para que os clientes possam, no próximo ano, usufruir dos seus dados. “A experiência é fundamental nesse novo cenário de Open Insurance, e o mercado pode notar boas experiências para se inspirar”, destaca.

Ele também cita como exemplo o case de bancassurance da companhia aérea KLM, que permite aos seus clientes no momento da reserva de um voo conectar os dados de seu seguro e visualizar a sua cobertura atual em tempo real. “Dessa forma, eles podem comprar uma cobertura extra para essa viagem. Além disso, após a ativação da cobertura personalizada, o cliente pode visualizar e gerenciar a mesma no seu aplicativo financeiro promovendo uma experiência digital integrada e com todas as informações em um só lugar”.

Conteúdo da edição de dezembro (249) da Revista Cobertura

Revista Cobertura desde 1991 levando informação aos profissionais do mercado de seguros.

Anuncie

Entre em contato e descubra as opções de anúncios que a Revista Cobertura pode te oferecer.

Eventos

Próximos Eventos

Mais lidas da semana

Mais lidas