Os reflexos e o legado do Plano Real no mercado de seguros

Uma avaliação e uma perspectiva a partir de grandes nomes do mercado de seguros sobre como era o mercado brasileiro em 1993, antes do advento do Plano Real, e como é agora
Carol Rodrigues

De 1986 até 1994, o Brasil teve quatro moedas: Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro e Cruzeiro Real. Nesse período, os supermercados tinham uma máquina que remarcava os preços diariamente. Em algumas situações, o preço do alimento na parte da manhã poderia ser mudado ao final do mesmo dia.

Nilton Molina, MAG

“Perdemos nove zeros na moeda. A economia brasileira não tinha transparência e previsibilidade. O indivíduo brasileiro vivia o dia. Por que uma pessoa iria fazer o seguro de vida, se ela não tinha a mínima ideia de que, quando virasse as costas, a moeda ainda iria existir?”, lembra Nilton Molina, presidente do Instituto de Longevidade MAG.

Segundo Molina, o Brasil foi um dos países que conseguiu crescer durante a inflação devido à invenção da correção monetária, em 1964, com o lançamento das ORTNs – Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional. “Isso ensinou o brasileiro a fazer poupança, através da caderneta de poupança, porque tinha correção pelas ORTNs, enquanto, por exemplo, o argentino, que não tinha o processo de correção monetária na sua economia, fazia poupança em dólar, guardando-o, embaixo do colchão, como faz até hoje”, compara.

Marcio Coriolano, CNseg

A Superintendência de Seguros Privados (Susep) convivia com uma regulação talvez até maior do que a regulação do IRB. “As companhias seguradoras tinham pouca capacidade de retenção de riscos, exatamente porque ainda estavam na fase de amadurecimento. Eram no máximo cinco companhias que estavam no topo do ranking e concentravam 80% do mercado. Os bancos, como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, ainda não haviam enveredado para o mercado de seguros”, contextualiza o economista Marcio Coriolano, membro consultivo da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

Nesse período, as seguradoras não eram muito capitalizadas e viviam do resultado financeiro. “Em 1993, às vésperas do Plano Real, a inflação batia na casa de 120% ao ano. Isso contribuía para que as pessoas, famílias e empresas não tivessem muito apetite para contratar seguros. O seguro, basicamente nesta época, era Auto, Vida (risco) e outros ramos industriais e patrimoniais de empresas. Eles eram depositados no IRB, que fazia o resseguro e era monopolista”, sintetiza Coriolano sobre a configuração do mercado de seguros às vésperas do Plano Real.

Luis Cozac, Partenariat

“Os contratos de seguros são tipicamente contratos nos quais se tem que projetar o resultado no tempo. Se a moeda perde valor, como perdia no período da hiperinflação, todo o mecanismo do mutualismo fica ameaçado”, assinala Luis Cozac, economista e sócio da consultoria Partenariat.

Não foi à toa que um dos grandes feitos do Plano Real foi a estabilidade da moeda e dos preços.

Plano Real: uma nova realidade

Em 28 de fevereiro de 1994, o Brasil ingressava em uma nova fase da sua vida econômica. O ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, sob a gestão do presidente Itamar Franco, apresentava o Plano Real de estabilização monetária previa a troca da moeda junto a outras medidas.

Antes de as células e moedas de real começarem a circular, em 1 de julho de 1994, houve um período de transição sob a Unidade Real de Valor (URV).

O plano, também conhecido como Plano FHC, alavancou a candidatura do então ministro para presidente.

“Foram dois os grandes desafios para a adaptação do setor à nova moeda. Da noite para o dia, a inflação caiu muitíssimo. Em 1995, no primeiro ano de vigência plena do Plano Real, a inflação já tinha caído para 22,45% ao ano. Depois da trajetória de queda veio a estabilidade. Como as seguradoras iam continuar operando sem o resultado financeiro para lhe amparar? O segundo foi que, nessa época, o mercado de seguros era engessado e tinha fatores de ajustes dos contratos que variavam muito de acordo com o plano de seguro e a empresa”, contextualiza Coriolano, que na época era diretor da Susep.

A economia brasileira cresceu a partir do Plano Real, justamente por conta da previsibilidade. Essa foi a grande contribuição da moeda, segundo Molina.

José Adalberto Ferrara, Tokio Marine Seguradora

“Em contraste com o cenário anterior a 1994, marcado pela hiperinflação, quando o Brasil chegou a registrar um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2.500%, o Plano Real proporcionou maior previsibilidade e mais segurança para que as pessoas e as empresas pudessem realizar novos investimentos, desde o micro ao grande empreendedor, nacional ou estrangeiro”, recorda José Adalberto Ferrara, presidente da Tokio Marine Seguradora.

Ele também comunga com o fato de que um cenário de estabilidade econômica contribui para o planejamento financeiro, pois possibilita que a sociedade compreenda o benefício que o seguro proporciona a longo prazo.

Acacio Queiroz, Executivo

“A inflação no Brasil, naquela época, chegou ao patamar de 6 mil% e já no primeiro ano de Plano Real, em dezembro, apresentava 1% da inflação por mês, demonstrando a eficácia do plano e o quanto ele ajudaria na estabilização da economia brasileira e, em especial, do setor de seguros”, analisa Acacio Queiroz, executivo, empreendedor, conselheiro, palestrante, escritor, líder e mentor.

“A estabilização da economia colocou a inflação sob controle, pareou a moeda nacional com o dólar, manteve o poder de compra do trabalhador baixo e como único ponto negativo aumentou o desemprego”, contextualiza Queiroz, que foi presidente de companhias como Chubb e ACE.

Em 1994, o salário mínimo era de R$ 64,79 e, em 30 anos, subiu 170%, acima da inflação, trazendo ao Brasil a estabilidade econômica e controle inflacionário, o que contribuiu para a redução da miséria, conforme Queiroz.

Antonio Penteado Mendonça, Penteado Mendonça e Char

O Plano Real foi baixado no meio de 1994, no final do semestre as seguradoras apresentaram o maior prejuízo da história do setor. “No final do ano o resultado tinha sido revertido e a última linha estava azul. Aconteceram duas coisas, nessa ordem. Primeiro a estabilidade da moeda permitiu ao país voltar a acreditar. E segundo, com a estabilidade financeira, a sociedade pode colocar para fora a demanda acumulada há tempos por produtos de proteção”, pontua Antonio Penteado Mendonça, sócio da Penteado Mendonça e Char.

Na visão do advogado e jornalista, o ponto alto foi a introdução do Real sem congelamentos ou outras mágicas que nunca deram certo. “A utilização da URV para estabilizar a inflação foi genial e permitiu que a moeda se consolidasse, com valor constante e confiável. A pior coisa que pode atingir uma atividade como a seguradora é a inflação. Com inflação alta, a poupança é corroída e sem poupança não há mutualismo. A estabilidade financeira alavancou o crescimento do setor de seguros”, descreve Mendonça.

O florescer do seguro

Contudo, o mercado passou a ter uma concentração maior, com movimentos de compra de carteiras e saída de companhias. “Esse momento serviu para reposicionar o mercado de maneira mais adequada, pois ficou mais forte e menos sujeito a qualquer problema de questões inflacionárias e, desde então, só cresce sustentadamente. Não só pelo Plano Real, mas também por uma série de acontecimentos”, diz Coriolano.

Cozac destaca a modernização institucional como algo que acompanhou o Pano Real em várias autarquias. “Esse cenário de melhoria institucional também ajudou muito o mercado. A partir disso, entendeu-se que o IRB poderia ser privatizado, e o modelo estatal não era o melhor. Abriu-se o mercado de resseguro e executou-se o Plano Diretor que já tinha sido criado em 1992”.

A partir das melhorias institucionais, o mercado de seguros brasileiro reagiu de forma positiva. Deu-se início à criação de novos produtos e propiciou a vinda de empresas estrangeiras para o Brasil. “Trouxe uma revitalização, seja dos grande players à criação de novos produtos, como a previdência com o VGBL e o PGBL. Saímos daquelas rentabilidades garantidas e criamos planos modernos. Uma série de evoluções do mercado financeiro respaldaram e impulsionaram o mercado de seguros. Temos uma gama grande de efeitos diretos e indiretos”, conta Cozac.

Segundo Ferrara, com o Plano Real houve o fomento e o crescimento de diversos setores econômicos, entre os quais, o da indústria securitária. “A partir do Plano Real, todo o ecossistema de seguros precisou acompanhar as profundas mudanças no cenário socioeconômico e ofertar novas soluções e coberturas securitárias para proteger a vida, o patrimônio e os recursos injetados na economia por pessoas e empreendedores”.

“Outro aspecto importante é que, com a inflação controlada e a estabilidade econômica, o Brasil se tornou mais confiável para receber investimentos externos, o que causou a entrada de empresas multinacionais dos mais diversos segmentos no País. Este fator também terminou afetando positivamente o mercado de seguros, especialmente o de produtos pessoa jurídica”, diz o presidente da Tokio Marine.

Nasce o VGBL e o PGBL e o Saúde ganha corpo

Os planos de previdência privada nos formatos Vida Gerador de Benefícios Livre (VGBL) e Plano Gerador de Benefícios Livre (PGBL) nasceram já no Plano Real e contribuíram para o crescimento do setor, além disso, o Saúde deslanchou.

“O Saúde teve um crescimento estonteante, pois praticamente nem existia. No ano inteiro de 1995, a receita foi um pouco menos de R$ 2 bilhões, e no ano passado foi de R$ 319 bilhões”, destaca Molina.

“O pano de fundo do crescimento no mercado de seguros brasileiro é igual a tudo no Brasil que melhorou. Com a estabilidade da moeda, veio a estabilidade da economia brasileira e a previsibilidade. Por isso, cresceu o mercado brasileiro. Mas nem tudo cresceu muito. Em uma visão geral, cresceu o dobro da inflação, no máximo o crescimento do CDI. O crescimento de verdade do mercado brasileiro foi em dois produtos que praticamente não existiam VGBL/PGBL e Saúde. Se pegarmos o Vida, sem VGBL, vamos observar que não crescemos muito”, acrescenta Molina.

Nessa época, o mercado de previdência privada no Brasil teve um impulso muito forte. “Embora o seguro auto e vida (risco) estejam na crista, já convivem com outros tantos seguros como previdência, agrícola, rural, capitalização. Tudo isso ampliou o mercado”, comenta Coriolano.

Na visão de Mendonça, os principais progressos trazidos pelo Plano Real, foram a constância dos valores das apólices, o surgimento da demanda por seguros, a rápida resposta das seguradoras que criaram novos produtos, a certeza da paridade entre a indenização e o valor do bem e o surgimento da previdência complementar aberta.

Como está o mercado hoje

Para o setor de seguros, de forma geral, o Plano Real teve um impacto importante. No início da década de 90, o mercado de seguros era muito pequeno, em comparação a países mais maduros, conforme Coriolano.

Segundo o sócio da consultoria Partenariat, alguns efeitos do Plano Real duram até hoje, tais como a amplitude do mercado, pois boa parte do crescimento do mercado foi propiciado pelo Plano Real, e o advento de muitos produtos e novas linhas de negócios, cobertura novas, que não tínhamos antes. Modernizou-se uma gama de processos essenciais e satélites em volta do seguro, tivemos a chegada de novas empresas estrangeiras e resseguradoras; e novas regras”. Com a modernização da Susep, o regulador se integrou, melhorou e passou a ter um outro desempenho. Para todo o lado que olhamos, vemos melhorias, evolução e aperfeiçoamentos”.

Acacio Queiroz acrescenta que, hoje, em decorrência de todos os movimentos realizado nesses 30 anos, temos uma quantidade de seguros enorme.

Ferrara destaca que o Plano Real viabilizou o crescimento econômico do País. Com o aumento da capacidade produtiva da economia (produção de bens e serviços) houve a consequentemente demanda maior por proteção e produtos de seguros. “A previsibilidade de níveis solvência e liquidez mensuradas em moeda estável permitiram maior oferta de cobertura de seguros e aceitação de riscos pelas companhias. Além disso, o desenvolvimento de novos produtos e coberturas para diversos perfis econômicos de Pessoas e Empresas, ampliando o acesso ao mercado de seguros”, analisa Ferrara.

Ele também acrescenta que a estabilidade da moeda e a maior conscientização da sociedade brasileira sobre a importância da proteção possibilitaram que os seguros de Vida e os produtos de Previdência Privada ganhassem destaque no pós-Real.

Qual foi o crescimento real do mercado?

Mas ainda há de se analisar melhor a participação do mercado de seguros no PIB do País. “Dizer que passamos de 1,3% prêmios sobre o PIB para 6%, não é verdade. 3,5% desse crescimento foi Saúde e PGBL. Se tirarmos Saúde, VGBL e PGBL você não vê mais 6%”, pontua Nilton Molina.

O presidente do Conselho Deliberativo da MAG Fundo de Pensão fez uma análise traçando um paralelo dos Ramos Elementares e Vida entre os anos de 1995 e 2023, no qual excluiu Saúde, PGBL e VGBL, conforme tabela.

“Retirei do demonstrativo de receitas Saúde, VGBL e PGBL, pois em 1995 PGBL e Saúde eram iniciantes e com número inexpressivos e o VGBL ainda não havia sido lançado. Além disso, excluí esses ramos de 2023 para evitar poluir os resultados além disso poder analisar o crescimento real dos ramos clássicos de seguro, praticados à época, quais sejam ramos elementares e vida”, explica.

Entre os indicadores, ele lembra que o PIB entre 1995 e 2023 foi de R$ 705.991.500 para R$ 10.856.112.400, o que representou um crescimento de 1.437,71%. Além disso, o aumento da inflação foi de 566,36%, do CDI: 5.898,48% e da Poupança: 1.316,27% (tabela).

 

“RE cresceu 1.477% contra um crescimento do PIB de 1.437%, ou seja, nenhum crescimento real. Vida cresceu 2.056%, apenas 43% mais do que o crescimento do PIB. Seguros no total cresceu 1.638%, quase nada, apenas 14% mais do que o crescimento do PIB”, analisa Molina ao comparar o desempenho do setor de 1995 a 2023.

Também é possível observar no mesmo período RE praticamente sem crescimento, de 1,12% para 1,15%. Vida também nada de expressivo, de 0,43% para 0,61%. E, no total, de 1,55% para 1,75%.

“Portanto, o mercado de RE e Vida no período de 1995 a 2023 não conseguiu surfar na onda da estabilidade da moeda e da economia brasileira. Não cresceu. O crescimento do mercado se deu em efetivo pelos novos ramos apresentados na saúde e acumulação.

Portanto, não é difícil concluir que faltou ao mercado de RE e Vida mais oferta, mais marketing, mais produtos, mais inspiração e principalmente mais transpiração, de todos os agentes econômicos envolvidos. Triste, porém, verdade”, conclui Milton Molina.

Velhos e novos desafios

“Como sempre, o grande desafio brasileiro é manter a inflação sob controle. Nós sabemos que para ela escapar é um segundo e sabemos que se isso acontecer o estrago é brutal”, expõe Penteado Mendonça.

Na visão do presidente da Tokio Marine, hoje, o grande desafio da moeda brasileira passa por questões macroeconômicas relacionadas à carga tributária e a alta de juros para conter a inflação. “Ambas têm impacto negativo sobre a cadeia produtiva e retardam o crescimento econômico, assim como provocam a desvalorização do Real. A reforma tributária e a redução da inflação futura, acompanhadas da queda na taxa de juros, serão moderadores fundamentais para a retomada do fomento e do crescimento da economia, refletindo assim positivamente em todos os setores, incluindo o de seguros”, acrescenta.

Luis Cozac lembra que os desafios não são somente em relação à moeda, mas relacionados à política econômica de forma ainda mais ampla. “O Real trouxe conquistas, mas nós não superamos enormes problemas que se mantêm no presente. O desafio do Brasil como sociedade e interesse coletivo, e o seguro está muito ligado a isso, eu diria que é a necessidade de uma distribuição da riqueza melhor, e atingir o equilíbrio da dinâmica social e das forças sociais. É achar os interesses comuns e persegui-los”, assinala.

No âmbito dos produtos, a indústria de seguros brasileira e mundial está se adaptando para os novos riscos e se preparando para adversidades como as mudanças climáticas e os crimes cibernéticos. “O aquecimento global pode provocar três tipos de danos: enchentes, seca e vendavais. Isso traz uma exposição grande, em especial para a área agropecuária.

As empresas estão se preparando. A catástrofe do Rio Grande do Sul atingiu tudo. Ninguém faz seguro de um celeiro, do local onde se faz a extração do leite. Ultimamente temos crescido muito no seguro residencial porque as pessoas estão percebendo a necessidade de resguardar o valor do patrimônio que eles custaram muito a construir”, comenta Acacio Queiroz.

A verdade é que o setor de seguros sofre com a influência da diminuição da disponibilidade de comprar seguros. “O crescimento do mercado está ocorrendo em função de que baixou a taxa de desemprego e aumentou muito o valor do seguro, em especial do Automóvel. O crescimento não se dá pela quantidade”, assinala Queiroz, que avalia o cenário hoje como mediano.

Queiroz lembra que, no Brasil, quando se tem que cortar custos, um dos cortes é a cobertura de seguros e quando há a melhora, é o último a ser recolocado.

“No momento estamos com o setor de agropecuária pujante, serviços está com crescimento, mas a indústria não. Também não temos tido aumento real de salario. É muito pouco o que se tem, considerando a inflação de 4%. O setor econômico do jeito que está não provê investimentos em novas indústrias para aumentar a capacidade de consumo de seguros. Temos hoje uma economia com a possibilidade de crescer 2,5%. A taxa de desemprego está, de certa forma estabilizada, mas não tem o crescimento real do valor do salário. Então, as pessoas não consomem. Tudo isso afeta o seguro”, analisa Queiroz.

Mendonça ressalta que o Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguro (PDMS), capitaneado pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), com o objetivo de atingir 10% de participação no PIB  em 2030 é factível.

“Para isso não é necessário nenhum seguro inédito. Se o setor aumentar sua penetração nos seguros de veículos, residenciais, empresariais médios e pequenos, transportes e vida, o número é perfeitamente viável. Como em função do ritmo do mundo teremos necessidade de novos seguros, principalmente para mudanças climáticas, pandemias e riscos cibernéticos, não é impossível o resultado ser ainda melhor”, projeta o advogado. “O desafio do setor de seguros é aumentar a capilaridade da atividade, atingindo camadas sociais hoje não atendidas. Para isso é necessário o desenvolvimento de novos produtos e o aprimoramento dos canais de distribuição”, acrescenta.

“Muitos especialistas atribuem o tamanho do setor de seguros à falta de conhecimento e educação securitária da pessoas, eu não compartilho dessa ideia. A educação é importante, mas dizer que o consumidor brasileiro é hipossuficiente virou uma lenda urbana. Hoje as pessoas têm muito mais conhecimento porque existe a internet e todos são muito mais conhecedores dos seus diretos e deveres, em relação há dez anos”, comenta Coriolano.

Ele destaca que dois terços da população, equivalente a 67%, ganha até um salário mínimo, e mais um quarto ganha até cinco salários, ou seja, 13%. “Cerca de 80% da população brasileira ganha até cinco salários mínimos. O seguro vem depois de as pessoas pagarem as contas de luz, água, gás, transporte, alimentação e aluguel. Depois de pagar tudo isso é que ela vai pensar em contratar algum seguro. Não dá para esperar que a renda seja melhor distribuída”.

Coriolano lembra que hoje o mercado está em 6%, tirando saúde suplementar, o mercado está em 3,5%. “Não vamos a chegar a 10% da participação do mercado de seguros no PIB se não houver algo, que não seja distribuição de renda, mas que faça com que os produtos de seguros possam caber melhor no bolso do consumidor. Há várias ações para fazer em relação a isso. Algumas o mercado já está fazendo, outras não”.

Inclusive, vender mais e estar mais presente na vida do consumidor são indicações de Molina para o mercado crescer.

“Todos os dias é necessário fazer uma comunicação sobre seguros, e uma comunicação mais amistosa. Não adianta comemorar a venda porque ela por si só não significa a permanência do seguro. É preciso dar condições para o consumidor comprar e permanecer no seguro”, ressalta Coriolano.

Outro desafio do mercado, conforme Cozac, é trazer para o mercado regulado os públicos que são atendidos por outros players.

O executivo, que foi presidente da ACE e da Chubb no Brasil, assinala que o governo precisa olhar mais para o mercado de seguros devido à sua relevância, representatividade e importância social. “O setor de seguros contribui muito com o País. Se tirássemos as operadoras de planos de saúde e seguradoras, o que aconteceria com a saúde do País?”, reflete. “O mercado segurador é um estabilizador da economia nacional proporcionando segurança em caso de acidentes ou intempéries, seja na pessoa física ou jurídica”, completa.

“Hoje tem muita coisa acontecendo no mercado brasileiro que está mudando a configuração do mercado radicalmente”, conclui Coriolano.

Fato é que o Brasil de hoje é diferente do de ontem e assim será no futuro. Mas, como bem diz o economista Luis Cozac: “Precisamos sempre cultivar as memórias e os grandes feitos do passado para que nos situemos melhor onde nos encontramos e desenhemos o nosso caminho para o ponto de chegada em que queremos levar a sociedade”.

Conteúdo da edição de julho (266) da Revista Cobertura

Revista Cobertura desde 1991 levando informação aos profissionais do mercado de seguros.

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