Quatro mulheres e a atividade de CEO no mercado de seguros

Carol Rodrigues

Convidamos quatro CEOs de seguradoras para um bate-papo sobre trabalho, liderança, presença feminina no mercado de seguros, sonhos e diversidade e inclusão nas companhias que lideram.

Em comum, elas têm a figura materna como referência e muito investimento de tempo em estudo para se qualificarem e chegar onde desejaram e, claro, a importância de sonhar e realizar. Todas celebram a presença feminina no mercado de seguros que, atualmente, de acordo com o 4º Estudo Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil, realizado pela Escola de Negócios e Seguros (ENS), com apoio da Fenacor e da CNseg, é de 54,4% em todos os níveis nas seguradoras.

Raquel Reis SulAmérica

“Siga esse sonho por você, não pelas outras pessoas”

Raquel Reis assumiu em janeiro a presidência de Saúde e Odonto da SulAmérica e está muito feliz com a oportunidade. “Já tenho uma passagem pela companhia, e sei o quanto o nosso setor está passando por um momento de reorganização pós-pandemia. Os desafios são muito grandes e a SulAmérica trabalha, cada vez mais, para melhorar a proposta de valor de seus produtos e serviços, aumentar o acesso à saúde suplementar e criar um ecossistema cada vez mais sustentável para todos”.

Em sua visão, o mundo e o comportamento das pessoas vêm mudando muito e, consequentemente, o papel do líder também. “Durante a minha carreira, cada líder que tive foi essencial para minha formação. E como líder, me dedico a seguir as mesmas características que me inspiraram, além de buscar um time com pessoas de diferentes perfis e perspectivas”.

“Sempre sonhei grande e acredito que sonhar faz com que sempre estejamos em movimento. Posso destacar uma pessoa muito importante na minha vida e que é o exemplo para que eu siga na busca dos meus sonhos, minha mãe. Uma mulher forte, que foi essencial para a minha formação, e quem me auxiliou e incentivou. Foi um exemplo de fibra e sucesso. E quando decidi fazer faculdade, ela me apoiou por completo. Desde aquela época, percebi poucas mulheres para esse nicho e, quando entrei no mercado de trabalho, segui observando essa ausência feminina nos cargos de liderança, o que me impulsionou e me fez ter essa ambição para chegar onde estou”.

Segundo Raquel, seu maior sonho, e desafio pessoal, é ser mãe do Felipe. “Meu adolescente que me ensina todos os dias e me desafia a dar o meu melhor”.
“Reforço para as mulheres que a realização profissional não está diretamente ligada a um cargo de presidência, o importante é estar realizada onde sentir que deseja estar. Lugar de mulher é onde ela quiser estar. Cada uma sabe onde quer chegar, então siga esse sonho por você, não pelas outras pessoas”, acrescenta.

Erika Medici
AXA no Brasil

“Liderar a AXA no Brasil um dia foi o meu objetivo e trabalhei muito para isso”

Erika Medici assumiu como CEO da AXA no Brasil em fevereiro de 2020, apenas um mês antes da pandemia. “Sou muito focada em resultados, objetiva, me considero uma boa ouvinte, uma pessoa de pessoas; procuro criar um ambiente seguro para as pessoas trazerem suas ideias. A minha objetividade tem a ver também com focar nas ideias. Na AXA no Brasil temos um clima muito propício para as pessoas trazerem suas ideias e, se fizer sentido, se for gerar o resultado esperado, vamos tocar. Nossa organização tem hierarquia, mas encorajo a horizontalidade. Isso abre espaço para as pessoas serem quem realmente são”.

Sobre as discussões de gênero no mercado de seguros, Erika diz que o Grupo AXA é extremamente comprometido. “Estamos cada vez mais nos aproximando da meta de paridade de gênero na liderança sênior do Grupo. Aqui no Brasil, o novo Comex da AXA tem oito integrantes, três são mulheres. Isso é um grande avanço. Além da vontade de fazer, é necessário implantar políticas e segui-las. Nas contratações que realizamos, é obrigatório ter pessoas de gêneros diferentes entre os finalistas. A partir dessa exposição à diversidade, escolhe-se a pessoa mais adequada para o desafio em questão”.

Como desafio comum a todas as seguradoras, Erika cita a digitalização no mercado de seguros, além da necessidade de avançar em uma cultura de dados. A AXA em especial tem três grandes tópicos: acelerar o crescimento, ser cada vez mais eficiente e tornar a marca mais conhecida no Brasil. “Vamos aproveitar ao máximo o fato de sermos patrocinadora e seguradora oficial da maior roda-gigante da América Latina. A marca é um asset muito relevante para nossa estratégia de crescimento”.

“Profissionalmente, liderar a AXA no Brasil um dia foi o meu objetivo e trabalhei muito para isso. Às vezes, as pessoas idealizam posições de alta liderança, mas ser CEO de uma companhia também é sinônimo de muito trabalho, responsabilidade e, em alguns momentos, de renúncia. Não me posiciono como uma líder idealizada, mas uma pessoa real, que trabalha junto, e isso encoraja as pessoas. Do ponto de vista pessoal, sempre quis ser mãe e me sinto muito realizada nesse papel. A convivência em família é motivo de muita satisfação para mim”.

Patricia Chacon
Liberty Seguros

“Ter uma liderança diversa não beneficia somente as mulheres”

“Em toda a minha carreira, a flexibilidade e a prontidão para a mudança sempre foram características que valorizo muito e, agora, estando à frente da Liberty, isso se intensificou. E para nunca perder essa essência, nos provocamos a todo momento para estar abertos a repensar decisões, implementar coisas novas, e ser ágeis para errar e corrigir rápido”, destaca Patricia Chacon, presidente da Liberty Seguros no Brasil desde março de 2021. Segundo ela, essa mentalidade trouxe importantes resultados à companhia.

“No perfil de liderança de cada um de nós tem uma combinação de ambição (o que queremos conquistar) e aspiração (quem queremos ser). Em termos de ambição, gosto de colocar metas altas, pois acredito que grandes desafios geram ideias transformadoras. Uma boa parte da minha carreira tem sido em programas de estratégia e transformação, em que temos como principal missão identificar tendências (falar constantemente com perfis diversos de pessoas ajuda muito!), priorizar áreas de atuação (como empresa, onde geramos mais valor?), e focar em executar com excelência”.

Em termos de aspiração, ela diz que durante toda a sua trajetória, sempre deu muita importância ao ato de escutar as pessoas e aprender com as vivências. “Cada um tem uma experiência diferente e combinar tudo isso é extremamente enriquecedor. Gosto de estar em ambientes onde tem perspectivas diversas, e parar constantemente para refletir sobre o que ouço, sobre as experiências vividas. Afinal, ganhar perspectiva no final do dia depende de quanto estamos dispostos a parar para refletir”.

“Ter uma liderança diversa não beneficia somente as mulheres, mas é igualmente importante para as companhias e para o crescimento do mercado. Acredito muito na diversidade de opiniões e de experiências passadas, pois isso faz com que as conversas sejam muito mais ricas”, enfatiza.

A Liberty fortaleceu e ampliou os incentivos para as mulheres, além de dar cada vez mais espaço para essas profissionais chegarem a cargos de liderança. “Nosso compromisso com a equidade de gênero vem sendo fortalecido há anos e é visível no nosso quadro, que hoje é 59% feminino e 45% dos nossos líderes seniores são mulheres”.

O Mulheres Seguras foi criado pela Liberty em 2015, de acordo com um dos principais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), o ODS 5, de alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

Ao longo dos últimos oito anos, o Mulheres Seguras impactou mais de 4 milhões de mulheres por meio de iniciativas como eventos para corretoras em todo o Brasil, workshops, mentorias, treinamentos gratuitos nas redes sociais, webinars e webséries, além de engajar as próprias funcionárias da companhia com palestras, convenções e muito mais.

“Além disso, recentemente, anunciamos um programa de capacitação de corretoras, como parte do Mulheres Seguras. Inédita no mercado, a iniciativa visa fomentar a equidade de gênero do mercado segurador e vai formar 40 profissionais interessadas no setor, com vagas exclusivas para mulheres negras, transexuais, em vulnerabilidade social, mães solo e mulheres com mais de 50 anos”.

Rosana Passos
Coface

“Sempre busquei ter um estilo de liderança participativa”

Globalmente, a Coface se preocupa com a questão da diversidade e não apenas de gênero, conforme a CEO da companhia no Brasil, Rosana Passos. “Na Coface América Latina, implementamos várias ações desde 2021 para promover este tema. Por exemplo, lançamos uma pesquisa interna sobre Diversidade e Inclusão para conhecer as percepções e expectativas de nossos funcionários. Mais de 84% dos nossos funcionários da região veem a Coface como uma empresa engajada em Diversidade e Inclusão. Foi uma das razões pelas quais aceitei o convite para ser presidente da Coface do Brasil: o compromisso que a empresa tem com a diversidade e inclusão”, comenta a CEO, que considera que o mercado de seguros ainda é massivamente masculino.

Segundo ela, a Coface possui programas de desenvolvimento de lideranças femininas e, em 2021, lançou regionalmente uma nova iniciativa e criou quatro grupos ‘ERG’ (Employee Resources Group): LGBTQIA+, igualdade de gênero, gerações e multiculturalidade.
“Desde meus primeiros cargos de liderança, há mais de 30 anos, sempre busquei ter um estilo de liderança participativa onde as opiniões são ouvidas e consideradas. Também me preocupo muito em ser modelo e inspiração para os mais jovens, através das ações do dia a dia e da clareza sobre alcançar objetivos e resultados esperados, se possível, superá-los. Gosto muito de desenvolver pessoas”.

Conforme a CEO, o mercado de seguros brasileiro é bem complexo e único, devido à sua cultura e nível de informalidade no ambiente de negócio, então, certamente mudar as mentalidades é um grande desafio. “Os brasileiros não fazem parte dos maiores consumidores de seguros tradicionais, portanto, é possível imaginar nosso desafio, como seguradora de crédito comercial, de desmistificar o seguro de crédito e apresentar seus benefícios ao máximo de executivos brasileiros”.

Rosana se sente realizada e feliz. Casada há 30 anos, tem dois filhos, uma enteada e dois netos. “Meus maiores sonhos sempre estiveram relacionados com a família, então, posso dizer que sou realizada. Para o futuro, quero continuar viajando em família, curtir os netos que tenho e os que vão chegar, estar próxima dos meus irmãos, sobrinhos e de todos os amigos e parentes que eu amo. Para mim isso é viver e ser feliz”.

“Sou uma sonhadora nata, ou seja, só cheguei até aqui porque sonhei e corri atrás para realizar meus sonhos, busquei na educação e no conhecimento os pilares para meu crescimento, porque acredito que estes são pilares sustentáveis. Com 42 anos de trabalho, meus sonhos estão voltados a deixar um grande legado de inspiração para as próximas gerações”, acrescenta.

Conteúdo da edição de março (251) da Revista Cobertura

Revista Cobertura desde 1991 levando informação aos profissionais do mercado de seguros.

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