Mercado continua a fomentar ramo que, no momento de desafios, se tornou mais próximo da população
Thaís Ruco
A situação desafiadora trazida pela pandemia influenciou e ainda vai influenciar muito a relação do consumidor com o seguro, inclusive o de Vida. O período trouxe aos consumidores a consciência de que as coberturas do setor podem, além de proteger a si mesmos, se estender a familiares e proporcionar mais segurança.
Segundo dados da FenaPrevi, os prêmios diretos de seguro de Vida cresceram 12,7% em 2021, em comparação a 2020, e 10,7% no primeiro trimestre de 2022, em relação ao mesmo período do ano passado. Na Bradesco Vida e Previdência, líder do segmento, esses valores foram de 15,4% e 16,4%, respectivamente.
“A pandemia do coronavírus trouxe para as pessoas uma maior conscientização sobre a necessidade de refletir sobre o nível de proteção de que dispõem hoje e como elas podem atuar para melhorá-lo”, afirma Bernardo Castello, diretor da Bradesco Vida e Previdência. “Outro efeito desse período da pandemia foi a mudança na visão do conceito de seguro de Vida, antes visto como voltado apenas para a proteção da família e beneficiários em caso de falecimento do provedor e que passou a ser percebido como um produto essencial de cuidado e planejamento financeiro, podendo ser utilizado em vida”, lembra.
Durante a pandemia, o brasileiro passou a se conscientizar mais sobre a importância da proteção e dos cuidados com a saúde. Além disso as companhias investiram em processos digitais e maior autonomia para o segurado. Na comparação entre 2021 e 2020, a SulAmérica viu a carteira de Vida aumentar em 260 mil clientes. As receitas operacionais subiram 6% em relação ao ano anterior, e o seguro viagem cresceu 45% na criação de receitas, impactado pelo avanço da vacinação e o início da reabertura das fronteiras. “Atualmente, mesmo com o afrouxamento das medidas protetivas, ainda é possível reconhecer estes cuidados na rotina dos brasileiros. No primeiro trimestre deste ano, nossas receitas operacionais de vida e acidentes pessoais totalizaram R$ 122,3 milhões, aumento de 19,4% em relação ao mesmo período do ano anterior”, diz Victor Bernardes, diretor de Vida e Previdência da SulAmérica.
Para Carlos Eduardo Gondim, diretor de Vida e Previdência da Porto, todo o histórico recente da pandemia despertou nas pessoas uma preocupação ainda maior sobre proteção e segurança com relação à vida. “Elas passaram a observar mais a si próprias e às suas famílias, seu ritmo de vida, e começaram a ter a percepção de que não podem esperar o risco chegar. Muitas delas já cogitavam contratar um seguro de Vida e, nesta pandemia, acabaram entendendo a importância de contar com garantias que vão proteger a elas e suas famílias em casos de imprevistos”. A Porto registrou aumento de 16,5% nos prêmios em 2021. No primeiro trimestre de 2022, a companhia registrou um crescimento de 20,7% em relação ao mesmo período de 2021.
Fomentando a oportunidade que desponta
Uma pesquisa da Fenaprevi e do Instituto Datafolha, que coletou percepções de cerca de 2 mil pessoas em todo o País no fim de 2021, apontou que 45% dos brasileiros, ou seja, quase a metade da população, afirmou não se sentir preparado para enfrentar outras situações inesperadas como a pandemia. Entre os sentimentos surgidos a partir da crise sanitária, os entrevistados apontaram o grande medo de deixar a família sem condições de se manter e o de não ter como pagar por tratamentos médicos. Os entrevistados ainda mostraram receio em não conseguir se sustentar por problemas de saúde ou perder o emprego.
“Embora os sentimentos de medo e insegurança tenham crescido com a pandemia, com uma maior preocupação das famílias com proteção e planejamento, essa nova percepção dos consumidores ainda é tímida”, analisa Hilca Vaz, diretora de Vida, Previdência e Capitalização da Mapfre. “Permanece uma dificuldade em se pensar no futuro, mas aqui está o grande momento do mercado segurador em fomentar seu papel consultivo junto à população. É uma chance ímpar de mostrarmos a importância da proteção à renda e às vidas dentro de um projeto de educação financeira voltado às pessoas”, acredita.
Para Alexandre Vicente, diretor de Seguros de Pessoas da Liberty Seguros, companhia que teve crescimento de 21% nos seguros de Vida Individual no ano passado, o trabalho de informar as pessoas sobre como esse tipo de seguro é fundamental deve se manter de forma perene nos próximos anos, para que a população que já está mais consciente sobre a importância do seguro de Vida possa conhecer ainda mais sobre os produtos e fazer a melhor escolha. “É indispensável que as seguradoras ofereçam produtos e ferramentas que se adéquem ao que cada cliente precisa, para que eles sintam que as opções foram feitas para eles. Essa lente de personalização, combinada com uma forte presença no digital, que vem ganhando cada vez mais popularidade entre os consumidores, poderá ajudar as empresas a fomentar o ramo de Vida no pós-pandemia”, aponta.
“Apesar de observarmos uma expansão considerável do segmento nos últimos anos, uma grande parcela dos brasileiros ainda não considera o seguro de Vida um item primordial para o seu planejamento financeiro, o que significa que ainda há muito espaço para crescimento”, comenta Castello, apontando que os corretores podem trazer exemplos reais de como o seguro de Vida ajuda a absorver impactos excepcionais no cotidiano, contribuindo para uma vida mais previsível e equilibrada. Essa é a missão do seguro.
Contribuição do Open Insurance
O Open Insurance tem um conceito bastante disruptivo e poderá, potencialmente, gerar muitas possibilidades de utilização das informações dos usuários por parte das empresas, permitindo um movimento mais inovador no mercado – inclusive no nicho de vida.
“Por ser um processo ainda em fase de desenvolvimento, a Liberty tem discutido o Open Insurance ativamente e estamos abertos às mudanças e possibilidades que esse modelo tem a oferecer. Além disso, estamos atentos às implicações que essa novidade terá na vida dos nossos clientes e parceiros, que são parte integral da estratégia de sucesso da companhia”, diz Alexandre Vicente.
“Devido à nossa política de governança, acreditamos que uma discussão ampla sobre o tema com todo setor é fundamental, uma vez que há muitos desafios e adequações, no que diz respeito ao compartilhamento e uso correto de dados, a fim de que se possa estimular uma competitividade de mercado assertiva com os novos entrantes”, ressalta Victor Bernardes. “O mercado caminha cada vez mais para dar liberdade de escolhas para os clientes e parceiros de negócios, de tal forma que as integrações entre as seguradoras aconteçam de forma fluida e segura, para que a decisão pelos melhores serviços fique por conta de quem contrata. Por isso, embora a implementação seja desafiadora, nossa visão é otimista”, completa.
“Como todos os processos que envolvem inovação, o Open Insurance tem como principal objetivo aprimorar o mercado de seguros. Porém, como qualquer transformação, é algo que deve ser observado com atenção”, reforça Bernardo Castello.
“O consumidor é quem irá ditar o mercado. O modelo gera um potencial competidor para os profissionais de seguros, e o mercado está se adaptando e observando a movimentação com atenção e cuidado”, observa Carlos Eduardo Gondim.
Conteúdo da edição de julho (244) da Revista Cobertura